São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Serviço a empresas privadas leva auxiliar de Dallari a ser investigado

LILIANA LAVORATTI
CARI RODRIGUES

LILIANA LAVORATTI; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-adjunto de José Milton Dallari, Ronald Castello Branco, também está sendo investigado pela Receita Federal. Assim como Dallari -ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda-, ele também prestava serviços a empresas privadas.
Castello Branco deixou o governo na última quarta-feira, junto com Dallari, que se demitiu depois de ter sido envolvido em denúncias de tráfico de informações. Dallari é sócio da consultoria Decisão, sob investigação da Receita.
A Folha apurou que Castello Branco faturou em 1994 cerca de US$ 250 mil, quase a metade dos US$ 590 mil supostamente recebidos pela Decisão no mesmo período. Estes valores foram considerados elevados pelos fiscais em comparação com o tamanho dos dois escritórios.
O adjunto de Dallari na Fazenda foi sócio de um escritório de ``prestação de serviços de comunicação empresarial" até o dia 10 de março deste ano -quando já estava no governo.
Ao mesmo tempo, ele acompanhava Dallari nas negociações de preços com vários setores desde fevereiro de 1994 de forma informal e só foi efetivado na Fazenda cerca de sete meses depois.
A saída de Ronald da empresa Castello Branco Comunicação Empresarial Ltda foi registrada no 2º Cartório de Registro de Títulos e Documentos - Pessoas Físicas e Jurídicas de Brasília.
Sua mulher, Maria Helena Friche Calvelhe, continua na empresa com um novo sócio -o empresário e fotógrafo Marcio Luiz Fonseca Ferreira, conforme o contrato.
A alteração contratual foi publicada no ``Diário Oficial da União" de 1º de março de 1995.
O escritório, segundo o deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ), ``serviu para reuniões paralelas com representantes do setor de alimentos e de supermercados durante o processo de conversão de preços para URV, de fevereiro a maio de 1994".
Este era o escritório ``de ponta" de Dallari e Castello Branco em Brasília, segundo o deputado. ``Pelas informações que tenho, lá se acertavam os preços nas planilhas e a encenação era no Ministério da Fazenda", disse Cardoso.
O presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), Edmundo Klotz, disse que nunca esteve no escritório da empresa de Castello Branco.
``Eu sei que ele tinha alguma coisa, mas as negociações eram sempre no Ministério da Fazenda", disse. Dallari foi assessor para assuntos de preços da Abia de 1986 a 1993, disse Klotz.
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Paulo Afonso Feijó, disse ter encontrado um contrato com a Decisão, feito na gestão anterior.
Segundo ele, a Abras paga R$ 750 mensais por informações sobre abastecimento, tendências de mercado, indicadores econômicos e previsão de safra. ``Nunca fui a esse escritório e, nas conversas no ministério, o Dallari nunca mencionou a Decisão", disse.

Outro lado
A Folha esteve duas vezes na sede da Castello Branco Comunicação Empresarial. As portas estavam fechadas.
Ao ser procurado ontem, Castello Branco disse que desconhece a investigação da Receita. ``Nunca recebi qualquer convocação, mas se isto acontecer vou prestar todas as informações".
Ele negou ter recebido cerca de US$ 250 mil em 1994. Também negou ser sócio da empresa.

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