São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC estuda vender títulos para pagar cliente do banco

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A solução para a crise do Banco Econômico pode passar pela venda de um título emitido pelo BC (Banco Central) e que seria adquirido pelos bancos privados.
Esta foi uma das propostas discutidas ontem pela manhã, na sede paulista do BC, em que estiveram presentes os oito principais bancos privados brasileiros.
Os bancos privados (Bradesco, Itaú, Real, Unibanco, Bamerindus, Nacional, Safra e BCN), segundo apurou a Folha, estão dispostos a participar de uma solução para a crise.
A reunião de ontem em São Paulo discutiu uma solução emergencial para o Econômico. As propostas são preliminares, mas tem um único sentido: viabilizar o pagamento dos clientes do banco baiano para, depois, possivelmente liquidá-lo (fechando o Econômico).
Tanto o BC quanto os demais participantes da reunião não consideram hoje viável a proposta da compra do Econômico por outros grupos.
Uma das soluções em estudo é a emissão de um título pelo BC. Este papel seria adquirido pelos bancos privados. O dinheiro obtido serviria para garantir o pagamento dos clientes do Econômico.
O prazo e o juro que seriam pagos no título não foram discutidos na reunião. Mas, segundo a Folha apurou, o maior ganho para os bancos envolvidos não será dado pelo juro dos títulos, mas pela possibilidade de ganharem uma nova fatia do mercado: a Bahia.
Uma das idéias é lastrear (garantir) a emissão desse título com recursos que estão disponíveis no BC. Embora não tenham liquidez imediata (ou seja, valem dinheiro, mas precisam ser vendidos para virar dinheiro), esses recursos fazem parte da massa falida de bancos (títulos ou imóveis) que foram liquidados no passado.
Nesse caso, o título poderia ser lastreado também nos bens e garantias oferecidas ao BC pelo próprio Econômico.
Assim, o BC ganharia tempo (o prazo dos títulos) para transformar imóveis, títulos, créditos a receber e, eventualmente, participações acionárias em dinheiro.
O BC estuda ainda formas para capitalizar dois fundos institucionais já existentes, que também seriam utilizados para o pagamento de clientes.
Um deles é o Funcheque, que deveria servir para patrocinar campanhas para o uso correto dos cheques e que é formado com os recursos de multas cobradas dos que passaram cheques sem fundos. O outro é o FGDLI (Fundo de Garantia para Depósitos e Letras Imobiliárias), o da poupança. Nestes dois fundos existem aproximadamente R$ 800 milhões.
Saídas estão sendo buscadas em outras frentes. No início da noite de ontem, o secretário de Fazenda da Bahia, Paulo Tourinho, se reuniu com o ministro Pedro Malan (Fazenda) e com o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, para discutir a crise do Econômico.
Continua existindo alguma intranquilidade no mercado financeiro, apesar das mudanças no compulsório, que foi afrouxado pelo BC. Para se ter uma idéia do tamanho do alívio, somente um grande banco ficou com seu caixa mais folgado em R$ 700 milhões.
Continua existindo alguma migração de recursos -embora em menor volume- em favor de bancos considerados ``inquebráveis".

Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Excesso de lastro
Próximo Texto: BC apura uso de empresas 'fantasmas'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.