São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Será o Bonifácio?

JUCA KFOURI

A frase do mês é de Eurico Miranda durante as negociações do Clube dos 13 com a TV. ``A gente rasga o contrato e vai discutir o assunto na Justiça."
O contrato, no caso, estava assinado e tinha validade até 1996, questão irrelevante para gente como Miranda.
Aliás, não só para ele. Um dos maiores problemas dos executivos das TVs está em que nem eles confiam no cumprimento dos contratos que assinam. Porque quem faz contratos com dinheiro por fora, pagando menos do que vale, sabe que tudo pode ser revisto, ao sabor do momento.
Foi assim agora, quando, finalmente, o Clube dos 13 tratou de substituir a CBF.
Renegociado o contrato com a TV aberta, fala-se em fazer o mesmo com os canais por assinatura. Em regra, todos pagam muito aquém do que o Campeonato Brasileiro vale, pelo menos para os clubes.
Até porque sempre há quem só pense a curto prazo, nunca a longo e, pior, ache que negócios são negócios, não têm princípios nem muito menos ética.
Como acontece, por exemplo, com Walter Longo, executivo da TVA, que, apesar do sobrenome, não aprendeu que quando a esperteza é demasiada acaba comendo o esperto -razão pela qual a ESPN/Brasil transmite os jogos do Brasileirão com um hora de atraso, ao contrário da concorrente Sportv que o faz ao vivo.
Mas são os interesses das TVs abertas que ainda mexem com o torcedor. E amanhã uma nova reunião deve mudar o horário dos jogos mais importantes dos domingos. Em vez do meio da tarde, o começo do noite, não importa o hábito do torcedor.
Estamos sob o império do marketing e é normal que até as camisas dos clubes mudem em nome da modernização e de novas fontes de renda. Mas cuidado! O bom senso impõe limites.
Isso de mudar o horário do grande jogo dominical não pode estar sujeito a um interesse circunstancial. Porque se a questão é ganhar do programa Sílvio Santos, o que acontecerá amanhã se SS morrer?
Por mais que devamos isolar hipótese tão terrível, o fato é que o futebol não deve ser usado desse modo mesmo quando, de fato, estejamos diante de mais uma idéia brilhante de um executivo da Globo.
O futebol deve se vender pelo que vale, mas tem de cuidar para não ser banalizado.
E bem que poderia se livrar de negociadores como Eurico Miranda, aí sim, a curto prazo. Porque a longo a TV o fará.

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