São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Historiador Dosse quer universalização

DA REPORTAGEM LOCAL

As ciências humanas necessitam redescobrir seu caráter universal. Essa foi a conclusão do historiador francês François Dosse, que falou no último dia 9 no auditório da Folha.
Dosse esteve no Brasil para o lançamento de seu livro ``A História em Migalhas", lançado na França em 1987, onde analisa as mudanças ocorridas no pensamento da Escola dos Annales, fundada em 1929 por March Bloch e Lucien Febre, que renovou os estudos históricos.
O encontro foi promovido pela Folha e pela editora Ensaio, e contou com a participação do professor Hilário Franco Jr, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), e Antonio Rago Filho, professor do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Dosse falou durante uma hora para um auditório lotado, explicando resumidamente as teses de seu livro. Ele qualificou a ``virada pragmática" das ciências humanas como o ``paradigma" dos Annales, ilustrando o atual momento da historiografia na França.
Dosse disse ainda que o seu trabalho, que visa o questionamento da posição dos Annales em seu país, terminou por lhe trazer uma série de inimigos: ``Tenho muitos amigos no Brasil, mas quase nenhum na França", afirmou.
Indicando que a partir do início dos anos 80 os historiadores dos Annales passam por uma mudança radical, com a retomada da esfera política em seus estudos, o que, segundo ele, sempre foi negado anteriormente, Dosse terminou sua exposição afirmando que é necessária a retomada do conceito de universalidade na ciências humanas e, em particular, na história.
Para o historiador, a necessidade, nas ciências humanas francesas, de romper com o passado colonialista -e positivista- europeu, instituindo o direito à diferença, agora se encontra em um impasse.
Hoje essas mesmas diferenças, que poderiam ser exemplificadas nas microideologias raciais, feministas ou sexuais, se constituem em pequenos blocos fundamentalistas que, devido a radicalização, já não se comunicam entre si. O que, em último grau, poderia conduzir a barbárie.
A tarefa do historiador, completou Dosse, seria retomar o espaço público para o debate, rejeitando esse ``fundamentalismo" em nome do resgate do que existe de positivo nessas mesmas diferenças.

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