São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Bienal do Rio lança biografia de Rudolf Nureyev

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A vida de Rudolf Nureyev já despertava curiosidade quando ele contava apenas 23 anos. Com esta idade, o bailarino que fugiu da Rússia comunista para iniciar uma carreira brilhante no Ocidente, já lançava uma autobiografia.
Com a morte de Nureyev, ocorrida em março de 1993, a disputa entre as editoras recomeçou. Lançada em Londres, em outubro do ano passado, ``Nureyev - Uma Biografia", de Peter Watson, chegou rápido ao Brasil. Através da Jorge Zahar Editor, começou a ser vendida nesta semana na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, por R$ 36,00.
Esta não é a única biografia escrita após a morte de Nureyev. No início deste ano, a editora norte-americana Simon & Schuster lançou em Nova York ``Perpetual Motion - The Public and Private Lives of Rudolf Nureyev", de Otis Stuart.
Embora explorando temas semelhantes sobre a trajetória do bailarino, estas duas biografias recentes se completam, traçando um roteiro detalhado, que certamente vai deliciar mesmo quem é indiferente ao mundo da dança.
Nascido em pleno regime stalinista, num trem siberiano que levava sua mãe a Vladivostok, onde encontraria o marido, então comissário do exército, Nureyev costumava dizer: ``Penso em meu nascimento como o acontecimento mais romântico de minha vida".
O fato de um dos maiores bailarinos da história ter nascido num trem em movimento sempre estimulou fantasias. Com sua sede de viver intensamente, Nureyev não deixou por menos. Gerou assunto de sobra para fazer a festa de qualquer biógrafo.
Peter Watson, por exemplo, parece ter se inspirado no ritmo incessante de um balé. Detendo-se em minúcias, conseguiu imprimir velocidade cinematográfica em suas descrições.
Antes de mergulhar no nascimento de Nureyev, Watson conta a primeira visita do bailarino à Rússia, em 1987, 26 anos após seu espetacular pedido de asilo no aeroporto francês de Le Bourget.
Cercado de agentes de segurança ocidentais, que temiam sua prisão pela KGB, a polícia secreta soviética, o bailarino teve todos os passos vigiados. Ficou poucos minutos com a mãe doente que, ao vê-lo, renegou o único filho homem.
A vida amorosa de Nureyev também rende vários capítulos. Bissexual assumido, teve duas relações afetivas controversas: com o bailarino dinamarquês Erik Bruhn e, segundo Watson, com Margot Fonteyn, outro mito do balé, 17 anos mais velha, que teria abortado um filho de Nureyev.
Watson ainda levanta outros pontos polêmicos: como o provável envolvimento de Nureyev no assassinato de Zoya Federova, atriz e espiã, que contrabandeava obras de arte russa e tinha no bailarino um de seus mais diletos clientes.
O gosto de Nureyev pela riqueza também recebe atenção no livro de Otis Stuart. Mais rico bailarino da história, ele acumulou uma fortuna que, após sua morte, foi calculada em 80 milhões de dólares.
Dono de uma ilha, colecionou tesouros antigos, tapeçarias e obras de arte nas sete casas que possuía ao redor do mundo, em lugares como Paris e Nova York.
Popstar sem precedentes na história da dança, tudo indica que Nureyev é um mito que promete ficar em evidência.

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