São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995 |
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Maior oposição vem da reserva
RUI NOGUEIRA
Na ativa, a grupo que faz oposição ao projeto é minoria e vem sendo derrotado no confronto com o comando militar em Brasília. O general-de-divisão Murillo Tavares, da 7ª Região Militar, vinha insistindo na crítica à indenização aos desaparecidos políticos. Derrotado, ele sentiu-se obrigado a pedir a passagem à reserva para poder criticar publicamente o projeto. Tavares faz parte do grupo que aceita apenas que o governo reconheça a morte dos desaparecidos e conceda um atestado de óbito aos familiares. Foi essa oposição que levou o ministro do Exército, Zenildo de Lucena, a divulgar na quinta-feira passada uma nota dizendo que indenização era um problema exclusivo do presidente da República. A maioria da reserva é contra o projeto porque é formada basicamente pelos militares que participaram diretamente do Movimento Militar de 64 e do enfrentamento com os movimentos de guerrilha. Para esses militares, a anistia é o limite de qualquer revisão dos atos do regime militar (64-85). Agora, com a discussão sobre o projeto, a reserva teme que os atuais comandantes militares sejam pressionados a fazer publicamente um mea-culpa, como ocorreu recentemente na Argentina. Lá, o chefe do Estado-Maior pediu desculpas na TV pelos sequestros e tortura durante a ditadura argentina. A Folha apurou que, nas reuniões de militares brasileiros da reserva, há um refrão muito repetido: ``mea-culpa nunca". Os militares da ativa não podem (por causa do Código Disciplinar) se pronunciar publicamente, muito menos criticar as negociações dos ministros do Exército, Aeronáutica, Marinha e Emfa com o ministro Nelson Jobim (Justiça) para definir os termos do projeto de indenização aos desaparecidos. Aos da ativa incomodam as denúncias contra militares que ainda exercem funções e são identificados por organizações de direitos humanos como ex-torturadores. Entre os militares da ativa repercutiram como ``exemplos de perseguição" os casos do coronel Armando Avólio Filho, adido militar na Embaixada Brasileira em Londres, e o do general-de-brigada Ricardo Fayad, que teve seu registro de médico cassado pelo Conselho Federal de Medicina. Texto Anterior: Governo enviará projeto no dia 28 Próximo Texto: Droga para hipertensão aumenta risco de infarto Índice |
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