São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995 |
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Guia ensina a comprar empresas no Brasil
NELSON BLECHER
É o que afirma o consultor Hans Apostel, 42, autor do guia ``Como Comprar uma Empresa", a ser lançado em setembro próximo por iniciativa da Câmara Americana de Comércio. Destinada a orientar investidores norte-americanos interessados na compra ou associação com empresas brasileiras, a publicação esmiuça aspectos legais e financeiros, além de particularidades da cultura empresarial. ``Não existe preconceito contra o país, como alguns chegam a afirmar, até porque a economia brasileira é uma das poucas que crescem no mundo", diz Apostel. ``O principal problema para o êxito das negociações é de ordem operacional", acrescenta ele, ao se referir às distorções acumuladas nos balanços que foram legadas por décadas de inflação. Elas dificultariam a percepção de valores do patrimônio, cálculo de riscos e projeção de lucros futuros. Segundo documento divulgado pela consultoria Apostel & Co, aos olhos dos investidores estrangeiros o preço do controle de uma empresa brasileira ``dificilmente compensa o risco". Com maior segurança na previsão de futuros lucros e linhas de financiamento atrativas, adquirem empresas nos EUA, Inglaterra ou Alemanha. Uma projeção feita pela consultoria estima que 80% das negociações não atingem a fase de carta de intenção, cuja assinatura é condicionada ao cumprimento de requisitos legais e a uma estruturação financeira bem-sucedida. O especialista -que atuou no episódio da compra da Bombril pelo grupo Cragnotti- afirma que outro fator responsável por abortar as transações são as contingências fiscais e trabalhistas. Enquanto as empresas brasileiras tendem ``a se adaptar ao passado", como afirma Apostel, os investidores norte-americanos se atemorizam quando tais pendências emergem na fase de auditoria. Apostel afirma que o guia visa facilitar a compreensão dos investidores sobre outra característica do ambiente empresarial brasileiro ``Quando o controle está nas mãos da família, muitas empresas, mesmo se cotadas na Bolsa, não estão habituadas a dar informações com a transparência necessária aos acionistas minoritários". Além disso, os estatutos não prevêem o destino da empresa no caso de haver disputas familiares e as saídas de um acordos sucessório para os acionistas minoritários. ``Na Alemanha, o acionista quer saber quanto o administrador gastou na compra de um iate particular, por exemplo". Apostel diz que, devido aos problemas enfrentados pelo México, o Mercosul se tornou ``negócio promissor" para os investidores internacionais. Quanto ao mercado brasileiro, o interesse se concentra em produtos e serviços cuja demanda foi reprimida nos últimos anos -como eletrodomésticos e outros bens dirigidos à faixa de consumidores de baixa renda. A consultoria estima que 40% das 300 maiores empresas nacionais privadas com problemas de sucessão ou limitação de recursos para a modernização devem admitir novos sócios ou vender ações. Se a previsão se concretizar, o controle de um patrimônio que soma US$ 15 bilhões trocará de mãos até o final da década. Segundo Apostel, a preferência dos investidores recai sobre associações minoritárias com empresas brasileiras acompanhadas de cláusula de opção de compra. ``Como comprar uma empresa no Brasil" será lançado no dia 15 de setembro, em evento com a presença de John Avery, presidente do Conselho das Américas. Texto Anterior: Governo faz reajuste nas cotações do dólar Próximo Texto: OBSTÁCULOS ÀS NEGOCIAÇÕES Índice |
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