São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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O Espírito Santo e o caminho das pedras

LUÍS NASSIF
O ESPÍRITO SANTO E O CAMINHO DAS PEDRAS

Não há exemplo mais significativo da atual onda desenvolvimentista do que o que ocorre com o pequeno Espírito Santo. Se há um Estado em condições de aproveitar a terceira onda de investimentos externos na economia, é ele. São Paulo foi a beneficiária da grande onda dos anos 50. Minas Gerais conseguiu pegar o bonde na onda dos anos 70.
Pelas dimensões de sua economia, será impossível que o Espírito Santo canalize parcelas expressivas do capital externo que está vindo para o país. Mas na atual quadra, ao lado de Minas Gerais, é o Estado que melhor entendeu o novo cenário de globalização da economia e o que melhor está se preparando para os novos tempos.
Em torno do governador petista Vítor Buaiz juntaram-se governo, oposição, entidades empresariais, sindicais, universidades e opinião pública em geral, num verdadeiro pacto de desenvolvimento -primeiro e mais relevante passo a ser vencido.
Depois, procurou-se valorizar as vantagens comparativas do Estado -que não chegam a ser expressivas. A elite empresarial capixaba desenvolveu-se em torno do comércio externo do café. O restante de que o Estado dispõe foi obtido por meio de circunstâncias políticas favoráveis, como a presença de capixabas ilustres em postos-chave da administração pública nos anos 70.
O ex-presidente do Banco Central Ernane Galveas e o ex-presidente do BNDES Marcus Vianna tiveram papel relevante na decisão da Aracruz Celulose de implantar no Estado sua fábrica. A Vale do Rio Doce, por seu principal mentor -o ex-presidente da empresa Eliezer Batista-, foi a responsável pela viabilização do porto de Tubarão, da Companhia Siderúrgica de Tubarão e da estrada de ferro até o porto.
Sabe-se lá por que cargas d'água, o Estado passou a sediar também as duas maiores empresas de transporte rodoviário do país -a Itapemirim e a Águia Branca. Juntem-se a elas a Garoto, de chocolates, a Braspérola, mais um pólo têxtil, outro de mármore e o principal laboratório de pesquisas da Xerox na América Latina e se terá um retrato acabado da economia capixaba.
Vendendo o peixe
Com tão poucos elementos, conseguiu-se montar um portfólio apreciável para atrair investimentos externos. O porto local, apesar de pequeno, é imensamente mais eficiente que o porto de Santos. Nos últimos anos, os incentivos fiscais concedidos a exportadores e importadores foram aplicados, em grande parte, em obras portuárias.
Esses incentivos respondem por parte do sucesso do porto de Vitória na importação de veículos. Mas sua eficiência específica responde por outra. Em Santos, depois que os carros são desembarcados, os importadores são obrigados a pagar 0,67% do preço do veículo por um período de 1 a 15 dias de armazenagem. Todos pagam e ninguém usa os armazéns locais, por não proporcionarem nenhuma confiabilidade.
Em Vitória, há uma estrutura de armazéns alfandegados privados, muito mais seguros e que cobram apenas 0,20% por mês.
Por lá, os trabalhadores estão permanentemente dispostos a cursar programas de aprimoramento. Em Santos, vive-se ainda a arrogância do monopólio.
Com os trunfos do porto, da ferrovia e da siderúrgica de Tubarão, recentemente o governador Vítor Buaiz pôs a pasta debaixo do braço e foi vender seu Estado para o Líbano e a Europa. No momento, tem a suprema pretensão de se candidatar a abrigar uma montadora coreana em seu Estado.
Se bem sucedido ou não, são outros quinhentos. O que conta é que o Estado conseguiu superar a politicalha, as divisões menores e dispõe de uma vontade homogênea de se desenvolver, baseada em um projeto industrial claro -algo que falta, por exemplo, ao governo federal.

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