São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Questão racial domina caso O.J. Simpson

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Saiba, ó leitor despeitado, que, neste exato momento, enquanto você lê este texto, estou muito bem acompanhada, em cruzeiro pelo Caribe.
Mas não é para matá-lo de inveja que esfrego minha boa sorte na sua fuça. É só para explicar o porquê de eu me referir, abaixo, aos acontecimentos do caso O.J. Simpson ocorridos entre 13 e 20 de agosto.
O julgamento do ex-astro de futebol acusado de duplo homicídio suscita pouco interesse no Brasil. Talvez, porque o tapuia não ligue para futebol americano e só conheça Simpson como o ator coadjuvante da série ``Corra que a Polícia Vem Aí". Ou, quiçá, porque a maioria dos assinantes de TVs a cabo encontra dificuldades em seguir as sessões no tribunal, televisionadas sem tradução pela CNN. Mas, vá por mim: trata-se de uma história de arrepiar até os cabelos dos fãs de Perry Mason.
As evidências contra Simpson são avassaladoras. Da luva ensanguentada encontrada no local do crime -a mesma que a promotoria mostrou o réu vestindo em uma foto antiga-, às provas de DNA que comprovam a presença do sangue de Simpson nas roupas das vítimas, tudo aponta para a culpa do réu. E faz com que o caso seja discutido por lavadeiras e estudantes de direito do mundo todo.
Mas, à despeito do acumulo de provas contra o réu, nem mesmo especialistas em direito sabem dizer se o negro Simpson, acusado de matar a mulher branca e um amigo dela, também branco, será condenado. O réu está sendo julgado na mesma Los Angeles em que ocorreram distúrbios raciais quando policiais brancos, acusados de espancar o negro Rodney King, foram inocentados pela Justiça. Simbolicamente, portanto, Rodney King é o 13º jurado no caso.
Por falta de argumentos, a defesa se concentra na questão racial. Os advogados do réu defendem a tese de que um policial supostamente racista, Mark Furhman, teria plantado provas para incriminar Simpson. E puxaram da cartola fitas gravadas em que Furhman usa expressões racistas e, pasme, fala mal da mulher do juiz que preside o caso, Lance Ito. Ao saber das fitas, Ito chorou em pleno tribunal. A palhaçada vai longe.

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