São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Psicóloga analisa as crônicas de José Simão

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Macaco Simão, quem diria, chegou à academia. A psicóloga Jane Almeida, 31, defende hoje, na PUC de São Paulo, a tese de mestrado ``Os Chistes e Outras Relações", que analisa, à luz das teorias de Freud, as crônicas de José Simão publicadas na Folha.
Com seus trocadilhos e jogos de palavras, os textos de José Simão são um campo privilegiado de estudo do chiste. ``São textos escritos como se fossem falados em voz alta. É a sonoridade que conduz sua construção", diz a psicóloga.
José Simão declarou-se ``lisonjeado em ser heroíno", mas disse que não sabe nada sobre a tese. ``Gostei do título, mas acho que seria melhor `Chiste: Freud Explica e o Macaco Simão Complica'."
Em sua tese, Jane faz um resumo das principais teorias do humor antes de chegar a Freud e a Simão.
``O primeiro problema a resolver é etimológico: a palavra `chiste' corresponde ao alemão `witz' e ao inglês `wit', que têm um significado mais amplo que o de `piada', assumido pelo termo em português", diz a psicóloga.
Foi estudando a natureza do chiste, de uma perspectiva que funde a psicanálise e a semiótica (estudo dos signos), que Jane chegou às crônicas de Simão. Ela resolveu se concentrar no ``período político" do colunista. Pesquisou os textos da coluna ``Picadinho de Político", publicada entre agosto e novembro de 94 no caderno da Folha dedicado às eleições presidenciais.
``Priorizei as crônicas políticas porque têm um alcance maior e falam de personagens conhecidos até hoje. Os textos sobre novelas geralmente são mais circunstanciais, os personagens são logo esquecidos", justifica a psicóloga.
Ao saber da escolha, Simão manifestou preocupação: ``E se os examinadores forem tucanos?"
Jane diz que teve a sorte de encontrar um tema de estudo divertido, que compensa a chateação de seguir as normas de um trabalho acadêmico. ``Se a tese virar livro, como pretendo, o leitor também poderá pular as partes chatas e ler só as piadas", brinca a psicóloga.
A tese será defendida às 17h, no Departamento de Comunicação e Semiótica da PUC. Estarão na banca a orientadora da tese, Samira Chalhub, o psicanalista Oscar Cesarotto e Amalio Pinheiro, especialista em literatura latino-americana e em humor.
José Simão não vai comparecer à defesa: ``Acho que minha presença seria constrangedora", diz o colunista. ``Já pensou se a orientadora, diante de um texto meu, diz: `Que porcaria!'?"
O colunista diz que esta será a primeira tese que vai ler. ``Um estudo assim é importante por me facilitar um entendimento do meu próprio trabalho. Depois de oito anos escrevendo diariamente, per di um pouco o distanciamento crítico sobre o que eu faço."

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