São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995
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Pais proíbem os filhos de ir a estádios para assistir futebol

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do conflito entre torcedores no domingo retrasado, que deixou 102 feridos no estádio do Pacaembu, na final da Supercopa de Juniores, entre Palmeiras e São Paulo, muitos pais criaram sua própria campanha antiviolência: proibir os filhos de ir aos estádios.
Se a campanha funcionar, os estádios vão perder boa parte do seu público. É que a maioria dos integrantes de torcidas organizadas são jovens. Segundo a PM, 42,9% deles são menores de idade.
Se o jogo for no estádio do Morumbi, os menores terão de convencer os pais a acompanhá-los.
Sexta passada, o juiz Francisco José Parahiba Campos determinou que os menores de idade só podem ir ao estádio se acompanhados pelos pais ou responsáveis.
Mario Santos Silva e seu filho, Ilton Mendes Silva, 16, palmeirenses, já estão em discussão. ``É muito perigoso. Meu filho não vai. Pelo menos enquanto for menor e eu for responsável por ele", diz.
Ilton pode até convencer o pai a levá-lo a um jogo, mas não vai realizar seu maior sonho: entrar para a Mancha Verde: foi terminantemente proibido por seu pai. Na periferia de Embu (Grande São Paulo), onde mora, ser de uma torcida é considerado ``bacana".
``Ele só entra em estádios quando se governar. Antes, de jeito nenhum. Nem se precisar ser trancado em casa", diz o pai de Ilton. O filho obedece, mas diz que, quando fizer 18, entra para a torcida.
Eliane Maria dos Santos até há um ano deixava o filho, Leôncio dos Santos, 12, ver jogos em estádios. Hoje, tem uma opinião diferente. ``Pode ser qualquer jogo que ele não vai mesmo", determina.
Segundo ela, as imagens de domingos atrás são aterrorizantes. ``Se meu filho estivesse lá, morreria de medo", diz. Leôncio é torcedor do São Paulo e diz que entende a preocupação da mãe. ``Eu queria ser da Independente, mas vou ver os jogos em casa."
Francisco José Pereira proibiu o filho, de Marcelo Pereira, 17, corintiano, de ir ao estádio. ``Com esta violência, é impossível", diz categórico. Marcelo não se conforma: ``É uma babaquice".
Alguns pais não conseguem convencer os filhos. G., 16, da Mancha Verde não tira o uniforme da torcida nem para trabalhar. Diz que os pais não gostam.
Sempre vê jogos no estádio e não pretende deixar de fazê-lo por causa da violência. ``O amor à camisa é maior do que o medo. Quando estou com a camisa do time não tenho medo de nada."
G. faz parte de um grupo que já foi catalogado pela polícia militar. Segundo o 2º Batalhão de Choque da PM, que faz a segurança do Pacaembu, o número de ocorrências envolvendo menores aumentou 70% de 90 até hoje.
O coronel Carlos Alberto de Camargo, comandante do do 2º Batalhão de Choque da PM, divide os torcedores em dois grupos. O primeiro é de torcedores favoráveis à violência, que vão para o jogo como se fossem para a guerra. O segundo se diz contra a violência, mas que briga se provocado.
L., 16, da Independente, se encaixa no segundo grupo. Ele esteve no jogo entre Palmeiras e São Paulo. Invadiu o campo. Apanhou da polícia e bateu em palmeirense.
Como outros garotos, ele diz que é contra a violência, mas diz que briga para se defender. Participa da torcida ``porque é legal".
Segundo o psicanalista Orlando de Marco, as razões que levam um jovem a se envolver em brigas de torcida são mais profundas.
``O jovem tem necessidade de se agrupar para suportar o período complicado da adolescência", diz. Segundo ele, a agressividade é um sentimento que está dentro dos jovens. ``Se eles praticassem esporte, por exemplo, poderiam canalizar esta agressividade para uma atividade construtiva", diz.

LEIA MAIS
sobre violência das torcidas à pág. 6-3 e no caderno Esporte

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