São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 1995 |
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Gattai conta histórias "para boi dormir" Primeiro romance da autora não merece a categoria MARILENE FELINTO
``Crônica de uma Namorada" é o que resultou das muitas décadas que Gattai passou datilografando os originais do marido. Confessa que aprendeu a escrever com ele. Começou tarde, aos 63 anos, fazendo livros de memórias e de literatura infantil. ``Quem escreve memórias precisa ter vivido muito para depois contar. A gente precisa de um certo tempo para conhecer a vida", comenta. Divulgado inicialmente como ``O Galo de Dona Antonieta - Crônica de uma Família na Cidade de São Paulo na Década de 50", o primeiro romance de Zélia Gattai trata do desenvolvimento emocional e sexual de uma menina. Ambientado nos anos 50, pretende ser um painel da sociedade paulista daquela época. Na categoria de romance a que se alça, o livro é uma bomba, o costumeiro amontoado de fatos singelos, sem qualquer tratamento estético reconhecível, e que não transcendem os arredores da vida da autora. A denominação de ``crônica" no título é o máximo a que deveria almejar. Na verdade a questão aqui é outra. O pequeno estardalhaço que a publicação deste livro de Gattai provocará no mundinho do mercado literário se deve exclusivamente a razões extraliterárias: claro que Zélia Gattai sequer seria reconhecida como escritora não fosse pelo nome de Jorge Amado. Pode-se respeitá-la por sua idade avançada. O resto fica por conta do carnaval brasileiro, da política de favores e do poder de impressão de uma Bahia velha, coronelesca e arrogante, que tem a seu inteiro favor a máquina de fazer nomes da rede Globo. No manejo dessa manivela estão exatamente os dois mosqueteiros versão baiana, Jorge Amado e Antonio Carlos Magalhães. Como mulher do primeiro, Zélia Gattai tem privilégios e regalias com que jamais sonharão escritores brasileiros dignos do nome. ``Anarquistas Graças a Deus" foi transformado em mini-série de mesmo título, pela rede Globo de televisão, em 1984. O livro vendeu 300 mil exemplares e foi traduzido para vários idiomas. O destino de ``Crônica de uma Namorada" não será diferente. Do jeito que a Bahia grita, a tendência é virar novela das oito, contando histórias para boi dormir: ``Dona Antonieta e vovô são bons amigos. Vovô fez dois banquinhos de madeira com degraus, confortáveis e resistentes; ofereceu um a dona Antonieta, que o encosta ao muro alto que separa as duas casas e nele sobe sempre que deseja falar com o vizinho ou quando o vizinho a chama. `Estamos de camarote', dizem, empoleirados confortavelmente." Livro: Crônica de uma Namorada Autora: Zélia Gattai Preço: R$ 17,90 Lançamento: já nas livrarias Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch Próximo Texto: Nova York faz tributo a Carmen Miranda Índice |
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