São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Pai identifica 12ª vítima do conflito de RO

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A VILHENA

Foi identificada ontem mais uma vítima do conflito entre posseiros e Polícia Militar ocorrido na desocupação da fazenda Santa Elina, em Corumbiara, sul de Rondônia. No confronto morreram nove sem-terra e dois policiais militares, conforme a versão oficial.
``É ele, é o meu filho", disse, com as mãos na cabeça, Raimundo Gomes, pai de Sérgio Rodrigues Gomes, 24, desaparecido desde o último dia 9, data do confronto em Corumbiara. A identicação foi feita na delegacia de Vilhena.
Agora, segundo lista feita pela Comissão Pastoral da Terra (CPT, órgão ligado à Igreja Católica), são nove os desaparecidos.
Na quarta-feira passada, a polícia localizou o corpo de um jovem boiando em um rio da região.
O corpo tinha fraturas na cabeça e descolamento da calota craniana, causadas por ``objeto contundente".
O pai reconheceu o corpo por meio de sinais que ele já havia citado, por telefone, ao médico legista Luiz Carlos Hassegawa, que fez a necropsia.
Entre os sinais está um dente incisivo quebrado (``quando mexia com uma motosserra"), a calça jeans com costuras na perna direita e a descrição de altura.
Apesar da identificação visual, o corpo foi levado ainda ontem para Porto Velho, onde será feita coleta de material na medula óssea. O objetivo é identificar o DNA (código genético) do cadáver e compará-lo com o do pai.
O prefeito de Corumbiara, Arnaldo Carlos Teco da Silva, 40, do PSDB, disse à Folha que viu o rapaz preso numa camionete Toyota, placa VT-9099, azul.

Algemado
``Eu o vi preso, com PMs na camionete às 17h do dia 9. Ele estava algemado", disse o prefeito.
Segundo Teco, o rapaz ainda tentou falar com o vereador Percílio Antonio de Andrade, mas foi impedido por PMs.
``Um soldado deu um chute nas costas dele. Se na frente de um prefeito eles fazem isso, imagine longe", supôs Teco.
Sérgio Rodrigues Gomes participava da equipe de segurança dos sem-terra na fazenda Santa Elina, segundo um dos líderes da ocupação, Cícero Ferreira Neto.
Ontem, o tenente-coronel João Carlos Balbi, 40, disse que o inquérito policial militar, aberto no último dia 16 em Vilhena, ouviu até o momento três PMs.
O prazo de encerramento é de 40 dias, prorrogáveis para 60, segundo ele.
"Agora, com os laudos em mãos, o inquérito vai começar a andar mais rápido", disse.
Participaram da operação 19 PMs de Colorado do Oeste, 16 de Cerejeiras, 112 de Vilhena e 46 da Companhia de Operações Especiais (COE), de Porto Velho. Todos deverão ser ouvidos.

Rigor
Balbi afirmou também que, "apesar de dizerem que a Justiça Militar é corporativa", a apuração será feita com rigor, e os comprovadamente responsáveis por excessos serão punidos.
Pelo regimento da corporação, segundo Balbi, são cinco as punições possíveis a PMs que cometem delitos: advertência verbal, repreensão escrita, detenção (em cela disciplinar no quartel), prisão e expulsão.

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