São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Rodízio e gás natural

JOÃO LEIVA

A administração pública é frequentemente tentada pela adoção de soluções superficiais e polêmicas, desprezando medidas que a longo prazo trariam resultados mais efetivos. O rodízio de veículos para diminuir a poluição é exemplo típico disso.
É claro que, quanto menor o número de carros nas ruas da cidade, menor será a poluição. Mas pergunta-se: o rodízio é uma solução viável? Existirão outras alternativas?
É uma solução dificilmente viável e de resultados temporários, enquanto existem outras soluções mais eficazes e de efeito mais duradouro, que têm sido esquecidas pelos órgãos públicos.
O uso do carro no dia-a-dia é indispensável para o exercício de inúmeras atividades. Só para lembrar algumas: corretores, vendedores, profissionais liberais de várias categorias têm o automóvel como instrumento de trabalho.
Se a estrutura de transporte urbano fosse capaz de transportar mais gente, é provável que a solução "rodízio" tivesse êxito. Mas todos sabem que isso não acontecerá.
Enquanto essa polêmica agita a opinião pública, ficam esquecidas as soluções permanentes, como a utilização do gás natural, o menos poluente dos derivados de petróleo, nos táxis e ônibus urbanos.
A Grande São Paulo recebe o gás natural da bacia de Campos, que é distribuído pela Comgás, atendendo indústrias, residências e postos automotivos. A indústria automobilística tem tecnologia para produção de veículos a gás. O preço é inferior ao do álcool e gasolina e sua utilização prolonga a vida do motor.
Mais de 6.000 táxis e alguns ônibus rodam em São Paulo com o novo combustível. Mais de 1 milhão de veículos rodam em vários países, inclusive os táxis de Buenos Aires, com excelentes resultados, atestando que não se trata de uma simples experiência.
Temos o amparo legal do CNP (Conselho Nacional de Petróleo), que priorizou sua utilização em frotas cativas, como táxis e ônibus urbanos. Temos Lei Municipal que obriga a transformação da frota de ônibus de diesel para gás natural num prazo de até dez anos (Lei de 1989).
Temos o projeto de Lei Estadual, em fase final de discussão, que estende essa obrigatoriedade para a Grande São Paulo, com a exigência de substituição gradativa da frota em no mínimo 5% ao ano.
Por que então a adoção do gás natural, o menos poluidor dos combustíveis, não é objeto de atenção e determinação dos órgãos públicos?
É difícil responder. De um lado, a inércia própria das administrações e, de outro, os lobbies das empresas de ônibus às quais não interessa a adoção dessa medida.
Mas é preciso que se desperte a opinião pública para cobrar políticas de longo prazo, buscando soluções permanentes e eficazes.

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