São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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Morre torcedor do São Paulo vítima do conflito no Pacaembu

ANDRÉ FONTENELLE*

ANDRÉ FONTENELLE; ARNALDO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Márcio Gasparin da Silva, 16, morreu ontem no Hospital das Clínicas, em São Paulo. É a primeira vítima fatal da briga entre torcedores de São Paulo e Palmeiras, dia 20, na final da Supercopa de Juniores, no Pacaembu.
Torcedor do São Paulo, Gasparin estava internado desde o dia 20, em coma (estado de inconsciência em que se mantêm apenas a circulação e respiração).
Sua morte encefálica (cerebral) foi decretada às 16h. Ele será enterrado hoje, no cemitério Chora Menino, em Santana (zona norte de São Paulo).
Gasparin sofrera múltiplos traumatismos cranianos, provocados por agressões, durante a briga no Pacaembu. Uma pneumonia agravou seu estado nos últimos dois dias.
Sua família, que inicialmente se recusara a doar órgãos do corpo dele para transplante, voltou atrás, mas quando era tarde demais para retirar qualquer órgão (leia texto abaixo).
Adalberto Benedito dos Santos, um dos acusados de agressão a Gasparin, continua foragido.
Ester Gasparin da Silva, mãe de Márcio, estuda processar possíveis responsáveis pela morte, como a Prefeitura de São Paulo (que cuida do Pacaembu) e o Estado de São Paulo (responsável pelo policiamento no jogo).
``A família ainda vai decidir", disse o advogado de Ester, Ademar Gomes, 52.
``Meu filho foi morto pela inconsequência de muitas pessoas. Foi morto pelo Estado, que não garantiu a segurança necessária para que se evitasse essa tragédia, e pelo município, que, irresponsavelmente, abriu ao público um estádio cheio de paus e pedras", afirma nota entregue à imprensa por Gomes e assinada por Ester.
``Faço um apelo a todos os jovens que reflitam sobre o que acabou de acontecer. Aos assassinos dele, responderemos através do advogado", acrescenta a nota.
Na sexta-feira passada, os médicos do serviço de neurologia de emergência do hospital já haviam perdido praticamente toda esperança de salvar Gasparin.
Eles haviam praticamente paralisado a atividade cerebral do paciente, com medicamentos, em uma tentativa desesperada de ``dar tempo" ao cérebro para reagir.
Ao suspender a medicação, na sexta-feira, a equipe que cuidava de Gasparin percebeu que havia apenas resquícios de movimento em seu corpo.
Como é praxe no Hospital das Clínicas, dois exames do cérebro do paciente, às 10h e às 16h, confirmaram a morte do torcedor.
A briga no Pacaembu aconteceu após a final da Supercopa de Juniores -um dos maiores torneios para menores de 21 anos no país.
O Palmeiras fez 1 a 0 na prorrogação, vencendo o jogo pela regra da ``morte súbita". As duas torcidas invadiram o gramado e o conflito deixou 102 feridos.

LEIA MAIS
sobre violência no esporte na pág. 4 e sobre o Campeonato Brasileiro nas págs. 2 e 3

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