São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995 |
Texto Anterior |
Índice
MIS exibe filmes raros de Antonioni
JOSÉ GERALDO COUTO
Às 18h, o Museu da Imagem e do Som exibe, dentro da mostra especial ``Corto", dois documentários feitos pelo mestre italiano em 1948 e 49: ``Limpeza Urbana" e ``Sete Canas um Vestido". O primeiro retrata um dia (ou melhor, uma madrugada) na vida dos catadores de lixo de Roma. Embora tributário do tom social do neo-realismo italiano da época, o filme antecipa os temas e o estilo do ``cineasta do silêncio" ao demorar-se na contemplação das ruas desertas, dos solitários que vivem a cidade ``fora de hora". Reconhece-se o diretor também na mudança de significado dos objetos em função do olhar: uma carta que parece ter um sentido dramático para um casal vira um simples papel amassado para o lixeiro. ``Sete Canas um Vestido" é um documentário ao mesmo tempo didático e extremamente pessoal sobre o processo de transformação da cana no tecido rayon. Com delicada atenção à textura dos materiais e aos movimentos de homens e máquinas, Antonioni descreve essa trajetória agroindustrial como se fosse uma saga povoada de heróis (os trabalhadores), castelos (as fábricas) e milagres (a transformação da matéria). Documento, informação, crítica e poesia poucas vezes estiveram tão interligados. Cada país tem o Primo Carbonari que merece. A mostra ``Um Século em Curtas", outra atração do festival, também está bem servida hoje. Na sessão das 20h, no MIS, os destaques são o brasileiro ``Couro de Gato" (1962), de Joaquim Pedro de Andrade, e duas animações: o japonês ``Filme Quebrado" (1985) e o britânico ``As Calças Erradas". ``Couro de Gato", que fez parte do histórico longa-metragem ``Cinco Vezes Favela", mostra um grupo de garotos do morro que persegue gatos para poder, com seu couro, fazer tamborins para o Carnaval. ``Filme Quebrado", de Osamu Tezuka, reconstitui uma comédia muda do início do cinema. ``As Calças Erradas", de Nick Park, ganhou o Oscar da categoria em 1993. É uma comédia maluca sobre um cão que salva seu dono de um pinguim vilão que manipula sinistramente uma calça mecânica. Na sessão das 22h, há curtas obrigatórios de Geoges Mélies (``No Reino das Fadas"), Truffaut (``Os Mistons") e Hitchcok (``Bon Voyage"). Entre as novidades, o melhor programa está no Espaço Banco Nacional de Cinema. Nas sessões das 17h e das 21h, o destaque é ``O Cheiro das Formigas Queimadas", semidocumentário feito pelo americano Jay Rosenblatt em 1994. O filme retrata garotos americanos que se dedicam a torturar animais. Na sessão das 19h, o espectador poderá conferir a versatilidade do realizador dinamarquês Torben Skjodt Jensen em seis curtas recentes que misturam vídeo e filme. Rosenblat e Jensen participam de debate hoje à noite na Folha. Texto Anterior: Congresso acontece em 96 Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |