São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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China abre reunião de ONGs e confina protestos de feministas

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

China criou ontem um "protestódromo" ao anunciar que, durante o encontro de organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas aos problemas da mulher, os protestos devem ser feitos apenas no ginásio de uma escola a 55 km do centro de Pequim.
A reunião das ONGs começa hoje na capital chinesa, termina dia 8 e reúne pelo menos 26 mil pessoas, entre feministas, líderes de prostitutas, homossexuais e representantes de entidades católicas e de países muçulmanos.
O encontro representa uma espécie de coadjuvante da Quarta Conferência Mundial da Mulher, que reúne as delegações oficiais e é organizada pela ONU entre os dias 4 e 15 de setembro.
As duas reuniões devem trazer a Pequim pelo menos 35 mil pessoas de 185 países, o maior evento internacional já realizado na China.
A conferência, maior evento já realizado pelas Nações Unidas, deve aprovar um documento final apontando diretrizes para soluções desses problemas. As ONGs, através de pressão política, esperam conseguir influenciar os resultados da conferência.
O governo chinês qualificou o encontro como um de seus maiores desafios na área de segurança dos últimos 40 anos. Teme protestos contra sua política de controle de natalidade, conhecida como "um casal, um filho" e manifestações pró-democracia.
Na China não existe liberdade de expressão e o Partido Comunista reprime as tentativas de se questionar o monopólio do poder que ele mantém desde 1949, ano da vitória da revolução liderada por Mao Tse-tung.
Depois de pressionar a fim de trazer os encontros a Pequim, como forma de provar que pode organizar eventos internacionais, a China percebeu que convidou para dentro de suas fronteiras um exército de feministas acostumadas a protestos de rua. Agora, tenta limitar o contato entre elas e a população chinesa.
A primeira medida, anunciada em abril, foi transferir o encontro das ONGs do centro de Pequim para o distrito de Huairou, que fica a 55 km do centro e está atualmente fechado à população chinesa.
O governo busca afastar as feministas estrangeiras da praça Tiananmen (Paz Celestial), coração da capital chinesa e palco de protestos pró-democracia reprimidos com violência em 1989.
Ontem, a China reconheceu que não conseguirá evitar manifestações e tenta confiná-las a um ginásio de esportes de uma escola em Huairou.
Estão ainda proibidos protestos contra a "soberania da China e críticas aos dirigentes chineses", anunciou Tian Qiyu (pronuncia-se tchiiu), vice-ministro da Segurança Pública e responsável pelo policiamento na Conferência.
Tian Qiyu se recusou a explicar quem determina o que são ataques à "soberania da China".
A idéia do "protestódromo" e de limites à liberdade de expressão foi criticada por Supatra Masdit, uma das organizadoras da reunião de ONGs. "As leis do país anfitrião prevalecem apenas fora do local do encontro", afirmou.
A China também limitou a emissão de vistos de entrada, impedindo a participação de ONGs dedicadas ao Tibete, região que a China ocupou em 1951, e de Taiwan, país que Pequim quer trazer de volta a seu controle. Tal política fez caírem previsões iniciais de até 50 mil participantes.

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