São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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Motim; Alternativa incorreta; Barbárie; Choradeira; Quem paga o pato; Debate democrático; Elogio inoportuno

Motim
``Foi com imensa vergonha que tirei meu carro placa final 3 da garagem nesta terça-feira, 29/8. Caso tivesse respeitado o rodízio, teria de pegar três abarrotados ônibus para ir ao trabalho. Não há espírito comunitário que suplante o mau humor de tomar três conduções em São Paulo. O que me faz pensar que realmente o buraco é mais embaixo: enquanto não se resolver o problema do transporte coletivo na cidade, não há rodízio que resolva."
Camila Dammann (São Paulo, SP)

``Mais uma vez nós cidadãos, que arcamos com uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo, somos `convidados' a colaborar na solução de um problema de exclusiva responsabilidade do poder público. O que é conhecido por todos, exceto pelo sr. Paulo Maluf, sr. Fábio Feldmann e pelos órgãos `competentes', é que a péssima qualidade do ar e a caótica situação do nosso trânsito em grande parte advém da inexistência de uma política séria de controle da emissão de poluentes atrelada a soluções definitivas para os transportes coletivos. Fico imaginando para onde estão indo os meus impostos e fico com a convicção de que estou sendo tremendamente ludibriado."
Marcelo da Silva Leal (São Paulo, SP)

``O Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP manifesta sua apreensão com os efeitos da crescente elevação dos índices de poluição do ar na saúde da população da região metropolitana de São Paulo. Considera como muito oportunas as providências tomadas pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente que, associadas a medidas mais duradouras, como melhoria dos transportes coletivos, reestudo dos deslocamentos urbanos e redução das emissões veiculares, poderão modificar o preocupante quadro da poluição do ar."
Jorge da Rocha Gomes, chefe e João Vicente de Assunção, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (São Paulo, SP)

Alternativa incorreta
``Situação estranha essa do Banespa. O Estado deve ao banco, mas os liberais querem acabar com o banco. E a dívida? A solução neoliberal é mágica. É como aquela história: um liberal chega em casa e encontra sua mulher transando com outro liberal no sofá da sala. Então, ele vende o sofá."
Juarez da Silva Campos (Pedregulho, SP)

``A solução para a dívida do Estado de São Paulo para com o Banespa parece ter sido encontrada: a venda de bens do Estado que somariam pelo menos alguns bilhões de reais. O interessante nesse episódio é que a mídia e o governo de plantão se esqueceram de achar a solução para punir os verdadeiros culpados, que são os dois governos anteriores e a diretoria do Banco Central."
Álvaro Pires da Silva (Franco da Rocha, SP)

Barbárie
``Lamentável a morte de um jovem vítima de uma selvageria. Quem vai torcer por um time ou assistir a um jogo tem de estar consciente de que um time ganha e o outro perde."
Marcia Lopes (São Paulo, SP)

Choradeira
``O filósofo Romano usa a pág. 1-2 da Folha de 24/8 para a tradicional choradeira das universidades públicas paulistas. Seria bom ele informar ao público se a dotação do governo é bem-aplicada pelas universidades. Por exemplo: 1) quantas aposentadorias de R$ 5.000 se pagam a pessoas como o sociólogo Fernando? 2) é justo aposentado ser recontratado? 3) há fundações que usam prédios, funcionários, verbas, equipamentos e avais públicos, mas privatizam as receitas? 4) é correta a relação número de alunos/funcionários? 5) é justo estruturas enormes para cursos onde não há mais mercado de trabalho? 6) é justo rico não pagar nada? Quaisquer que sejam as respostas, o salário pago a professores no ensino básico é criminoso. O governador terá toda razão se cortar das universidades e melhorar o salário dos professores de escolas básicas."
Luiz Gornstein (São Paulo, SP)

Quem paga o pato
``O cinismo com que a equipe econômica vem encarando as danosas consequências do Plano Real me fez lembrar de uma cena do filme `Trovão Azul', na qual um burocrata do governo, defendendo a extraordinária capacidade do novo helicóptero, relata ao mocinho: `Sua eficiência em combate é fenomenal... Apenas dois civis mortos para cada dez terroristas. Um índice bastante aceitável'. Comentário do mocinho: `É, menos para o civil'."
Lauro Ney Batista (São José dos Campos, SP)

Debate democrático
``Em carta de poucas linhas à Folha (4/8) expressei minha preocupação com os crescentes problemas sociais por que passam algumas das mais prósperas economias capitalistas. Tal carta serviu de mote ao artigo `Os perigos da inocência' (20/8), de Roberto Campos, que, ao tentar responder a meus argumentos, incluiu uma série de ironias e ataques à minha pessoa. Relevo o destempero e a desproporção das críticas, preferindo atribuí-las à vocação persecutória de quem construiu sua reputação como membro de um regime espúrio marcado pela disposição para ferir liberdades individuais. Campos deve sentir-se pouco à vontade diante do debate democrático em um jornal eclético como a Folha, onde idéias divergentes podem ser expostas de forma harmoniosa. Quanto à sua insistência em explicar quaisquer fenômenos econômicos pela ótica do liberalismo, devo esclarecer que sempre reconheci a importância das leis de mercado e das funções do dinheiro na economia, cujos conceitos me são bastante familiares, ao contrário do que procurou sugerir Campos. Questiono, no entanto, a capacidade dos regimes capitalistas de conter a gritante desigualdade de acesso de cidadãos a condições dignas de sobrevivência. O direito à vida jamais deveria ser equiparado a transações financeiras ou a critérios de eficiência econômica."
Ricardo Fleury Lacerda (Nova York, EUA)

Elogio inoportuno
"Foi no mínimo inoportuno o elogio que o comandante militar do Nordeste, general José Carlos Leite Filho, fez ao general Pinochet e à sua ditadura no Chile. Ora, o general Pinochet foi um dos maiores facínoras da América Latina, pois comandou, em 1973, o golpe militar que iria dar início a uma das mais violentas e abjetas ditaduras do continente."
Elisabeto Ribeiro Gonçalves (Belo Horizonte, MG)

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