São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Garoupa é patricinha com objetivo na vida

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Quarta-feira foi o dia mais quente do inverno (máxima 31ºC) e o mais poluído do ano. Mas se levarmos em conta que a noite de quarta foi movimentadíssima nos Jardins e naquela parte do Itaim conhecida como "Itaim sur Pinheiros", veremos que, calor e poluição, nada impediu um novo tipo que circula na cidade de sair à caça.
Eu explico: um dos dados mais alarmantes na mitologia popular reza que existem hoje em São Paulo mais mulheres do que homens disponíveis no mercado "carnal". Esse fenômeno fez surgir um novo tipo de fêmea, cujo anseio de agarrar um trouxa é a base que rege seu comportamento.
Estou falando da garoupa, aquele peixão na casa dos 30, ora divorciada, ora simplesmente mal-amada, que chegou para ameaçar os machos.
Você já deve ter topado com a garoupa, ó leitor antenado com as sutilezas da espécie humana. Pode reparar: prima mais velha da patricinha, a garoupa sempre anda em bando e adora ficar movendo a longa cabeleira tingida de um ombro para outro.
Quando não tem pai rico, a garoupa possue um bom emprego. Veja: ela pode ser vazia, mas tonta, jamais. Sabe que tem de dar duro para alcançar seu único objetivo na vida. Para tanto, gasta mais do que ganha em cuidados com o corpo, cabeleireiro e roupas, e costuma dirigir carros importados produzidos em algum lugar do Oriente. Como, por exemplo, o Espero (deve ser para rimar com desespero) da Daewoo.
Claro, peixe fora do aquário, ela não pode dar bandeira: tem de andar sempre nos trinques para não dar na pinta de que está investindo pesado na árdua empreitada de ser fisgada por algum desavisado -por quem pretende se fazer sustentar até o último dia de sua insossa vidinha.
Dissimulada, a garoupa é aquela tipa que frequenta, como se fosse a dona do pedaço, o restaurante Fasano nas noites de quinta, almoça no Bar des Arts, dança no Kremlin e no Zoo e compra roupas importadas nas butiques Daslu e na Eclat. Tudo bem: minha irmã vem a ser uma das sócias da Eclat. Mas essa é uma verdade que -me desculpe irmã- não posso negar: peruas, galináceas e garoupas fazem de sua clientela uma fauna.

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