São Paulo, sexta-feira, 1 de setembro de 1995
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Críticas de filmes da Folha saem em livro

CARLOS REICHENBACH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prazer; esta foi, surpreendentemente, a primeira palavra que me veio à cabeça durante a leitura de "Folha Conta Cem Anos de Cinema". Prazer em redescobrir a crítica próxima ao ensaio. O fôlego, por exemplo, do texto de Orlando Lopes Fassoni sobre a obra de Chaplin.
Prazer em reler as lições do mestre Fritz Lang reproduzidas de um encontro notável com Sérgio Augusto, Paulo Perdigão, David Neves e Elice Munerato em 1965, e publicadas na Folha em setembro de 90.
Prazer em descobrir a panorâmica de Antonio Rodrigues sobre Jean Renoir.
Prazer em revistar Ozu sob a rigorosa dioptria de Inácio Araujo; o mergulho psicológico de Wilson de Campos Vieira no cinema da alma de Michelangelo Antonioni; a emocionante "descoberta de "Deus e Diabo na Terra do Sol" por Arnaldo Jabor; "Berlim Alexanderplatz" de Fassbinder, por Leon Cakoff; uma rara contribuição de Jean Claude Bernardet à Folha, sobre o já clássico "Cabra Marcado Para Morrer"; e vários outros exemplos da atividade crítica exercida com responsabilidade e paixão.
É inegável: "Folha Conta Cem Anos de Cinema" reacende o debate cinematográfico de maneira esplendorosa. Se há reparos à cuidadosa seleção do crítico Amir Labaki, elas coincidem no capítulo "Cinema Contemporâneo".
Apesar das justificativas presentes na apresentação do livro nada explica a exclusão de alguns dos textos fílmicos mais deflagradores já publicados pela imprensa brasileira. Falta Rogério Sganzeria falando de Welles. Falta a exuberante discussão ética e estética sobre o cinema atual aquecida na recente polêmica José Geraldo Couto X Walter Salles Jr.? Seria ótimo revisitar o guru Jean Luc Godard à luz da paixão de um Alcino Leite Neto. Lucia Nagib revelando o cinema do malaio G. Aravindan mereceria um capítulo à parte.
Parece evidente que a melhor crítica de cinema implica num trabalho acurado de prospecção. E é óbvio que aí penetramos no campo minado da subjetividade. Por que perder um espaço precioso com "fazedores de moda" e/ou autores de pavio curto? Por que Almodóvar, Sodenberg, Jim Jarmursh e não Theo Angelopoulos e Abbas Klarostami?
E Deus do céu, cadê Rosselini?
Que todas estas cobranças sirvam para aguçar ainda mais o desejo e a euforia do cinéfilo esperto e exigente. Obrigatório, este livro devolve a crença numa crítica cinematográfica de alto nível. Por isso mesmo, Labaki fica desde já nos devendo um segundo volume.

Livro: Folha Conta Cem Anos de Cinema
Lançamento: dia 18/9, às 16h30
Onde: livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, loja 153, Conjunto Nacional, centro, tel. 011/285-4033)
Preço: não definido

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