São Paulo, sábado, 2 de setembro de 1995
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FHC acerta trégua entre PFL e PSDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PFL e PSDB acertaram uma trégua de pelo menos 15 dias no jantar oferecido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso à cúpula dos dois partidos, anteontem, no Palácio da Alvorada.
Apesar do acordo, a reunião foi tensa e deixou claro que as divergências na aliança não terminaram.
No encontro, também ficou decidido que o líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PE), entregará a FHC uma lista de problemas da base governista.
A lista incluirá o nome dos ministros que não estão recebendo os parlamentares -uma das principais reclamações de deputados e senadores.
Em resposta, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) disse que já concedeu audiências a 540 congressistas.
"Chegamos a uma conclusão óbvia: quanto menos falar, melhor", resumiu o líder do governo no Senado, Élcio Álvares (PFL-ES).
A trégua foi acertada a pedido do presidente Fernando Henrique Cardoso durante o jantar, marcado por recriminações mútuas.
O presidente do PSDB, senador Artur da Távola (RJ), disse que tucanos e pefelistas vão fazer um esforço "de não trazer à tona, de modo flagrante ou agressivo, as discordâncias".
Segundo ele, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente".
Sérgio Motta se tornou alvo preferido das reclamações dos pefelistas. Devido às suas últimas declarações, que causaram revolta no PFL, foi interpelado pelos líderes do partido no Senado, Hugo Napoleão (PI), e na Câmara, Inocêncio Oliveira.
Motta ouviu ainda do vice-presidente do partido, deputado José Jorge (PE), uma sutil sugestão para silenciar.
"Os ministros têm de tratar dos problemas de sua área. Questões de natureza política devem ser de responsabilidade dos líderes no Congresso", disse Jorge, segundo seu próprio relato.
Napoleão foi quem começou a falar sobre os problemas que Motta estava causando dentro do PFL.
Segundo os presentes, o líder disse que até concordava com o que o ministro estava fazendo no ministério, mas que era necessário ter mais cordialidade com seus antecessores.
Oito horas antes do jantar, o ministro dissera, durante sua visita à Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, que havia encontrado "terra arrasada" quando assumiu sua pasta.
Napoleão foi ministro das Comunicações no início do governo Itamar Franco. O senador Antônio Carlos Magalhães (BA), um dos principais caciques do PFL, também já foi ministro.
Enquanto Napoleão falava, Inocêncio entrou na conversa, dizendo que eram absurdas as críticas que Motta fizera na Câmara. O ministro disse que agrediu porque havia sido agredido antes.
Ele se referia ao deputado Maluly Netto (PFL-SP), que o abordara na comissão. "Temos de parar de jogar conversa fora, que é uma característica de vossa excelência", disparou o parlamentar, ao reclamar das divergências de Motta com seu partido.
Inocêncio afirmou no jantar que não concordava com a agressão, mas que não fazia restrições às queixas de Netto. Naquele instante, percebendo que o clima estava ficando cada vez mais tenso, FHC resolveu intervir.
Ele lembrou que conseguiu se eleger presidente graças aos dois partidos e que não fazia sentido eles se agredirem em público.
A partir de então, prosperou a idéia de se fazer uma trégua de pelo menos 15 dias para tentar "baixar a poeira" entre as legendas.
FHC fez ainda um apelo para que os dois partidos relegassem a segundo plano as divergências e que se empenhassem em acelerar a tramitação das reformas constitucionais e de suas regulamentações.
O clima de animosidade entre tucanos e pefelistas ficou claro logo no início do encontro. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, fez questão de ler a FHC a nota oficial do partido com reivindicações de aceleração no processo de privatização e alterações no projeto de reforma tributária.
Luís Eduardo concordou com a atitude de Bornhausen, perguntando por que o governo já não havia privatizado a Light (empresa de energia elétrica do Rio de Janeiro).
Serra disse que o problema era a burocracia da legislação. Como provocação, disse que poderia enviar uma medida provisória ao Congresso com modificações na lei para resolver a situação.
Luís Eduardo afirmou que o ministro poderia enviar um projeto de lei que ele próprio se comprometeria a aprová-lo.

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