São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Fiesp afasta risco de recessão

ANTONIO CARLOS SEIDL; LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora as medidas do governo para aliviar o arrocho ao crédito tenham sido consideradas "tímidas", elas foram suficientes para mudar a percepção dos empresários sobre o comportamento do nível de atividade até o final do ano.
Segundo a avaliação unânime colhida pela Folha, o país não corre o risco de cair em recessão. Os empresários acreditam que o PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da produção anual do país) vai crescer 5%.
Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que as recentes medidas do CMN (Conselho Monetário Nacional) mostram a disposição do governo de flexibilizar as restrições ao consumo.
"Não vamos entrar em recessão porque o governo está sinalizando que quer evitar um mal maior."
Luiz Fernando Furlan, presidente do Conselho de Administração da Sadia, afirma que o governo está agindo certo ao aliviar com cautela o arrocho ao crédito.
Para ele, não haverá recessão. "É difícil entrar em recessão no final do ano e às vésperas de um ano eleitoral."
Roberto Teixeira da Costa, presidente do capítulo brasileiro do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina), diz que não sente "cheiro de recessão" no ar.
Mas ele acredita que as medidas adotadas pelo governo não serão suficientes para reverter o comportamento "assimétrico e díspare entre os setores e entre empresas dentro de setores"
É que, segundo Teixeira da Costa, as medidas adotadas pelo governo deverão ter pouco impacto "nos setores que já não estavam bem. Os consumidores estão escaldados, sentindo cheiro de indefinição no ar, mas a sazonalidade de fim de ano vai ajudar a atividade econômica".
Enrico Missasi, presidente da Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira e do grupo Olivetti, concorda com a estratégia gradualista de flexibilização do aperto ao crédito. "Enquanto não tivermos uma reforma tributária e fiscal decente o crescimento do PIB tem de ficar próximo de zero para não reacender a inflação."
Mas, Antônio Bornia, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing e vice-presidente do Bradesco, não espera uma estagnação.
"O país crescerá a uma taxa excelente de 5% este ano. Uma taxa de 12%, conforme se previa no início de 1995, seria inviável para manter a estabilidade da moeda".
Joseph Tutundjian, vice-presidente da Cotia Trading, afirma, como a equipe do governo, que "o pior já passou".
Para o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, o desaquecimento foi provocado para reduzir o nível de importações e já é "forte".
Mas o economista Edward Amadeo, professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, afirma que "é preciso esperar pelo menos dois meses para saber qual vai ser a relação entre o nível de atividade da economia e as importações."
Para ele, "o pior dos mundos" seria uma política do tipo "stop and go", caso o CMN criasse medidas para fazer a economia voltar a crescer e depois fosse preciso recuar, com novas restrições.
"Os últimos quatro meses do ano costumam ser os piores para a balança comercial (exportações e importações) por causa do crescimento das importações", diz o professor da PUC.

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