São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Argentina depende de recursos externos

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

A economia Argentina atualmente está amarrada à permanência do ministro Domingo Cavallo em seu posto e à dependência da entrada de investimentos estrangeiros neste ano.
Esse foi o diagnóstico realizado para a Folha pelos economistas Roberto Frenkel, 52, Mário Damill, 42, Guillermo Rozenwurcel, 41, e Carlos Bonvecchi, 48.
Todos integram a equipe de estudos econômicos do Cedes (Centro de Estudos de Estado e Sociedade) e o corpo docente da Universidade de Buenos Aires.
"A outra opção, mais arriscada, seria sair da conversibilidade", diz Frenkel. "Mas isso resultaria na perda da credibilidade internacional do governo e do ministro."
A conversibilidade é a base do plano Cavallo de combate à hiperinflação, implementado em 1991. A idéia é a manutenção de um câmbio fixo e equilibrado. Ou seja, um peso vale um dólar.
Qualquer alteração na política cambial argentina seria imediatamente traduzida como um risco à conversibilidade.
"Se surgir alguma dúvida com relação à política cambial haverá uma forte saída de capitais", afirma Rozenwurcel.
"Isso iria desestabilizar fortemente a economia, aprofundar a recessão, aumentar a crise financeira", completa.
"Cavallo criou uma política econômica que não pode ser tocada e da qual ele é o principal guardião", diz Frenkel.
A chave do emaranhado de problemas que Cavallo tem em suas mãos está na queda acentuada de investimentos estrangeiros verificada depois da crise mexicana, em dezembro de 94.
Segundo Frenkel, de 91 a 94, a Argentina recebeu investimentos anuais médios de US$ 10 bilhões.
Neste ano, o governo conseguiu empréstimos de US$ 8 bilhões de organismos como o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O cenário financeiro ainda foi pior. Saiu dinheiro do país, caíram as reservas do Banco Central e os bancos perderam depósitos.
Os economistas concordam que as expectativas eram catastróficas no início do ano. Previa-se uma moratória da dívida externa e uma crise financeira ainda mais grave.
A Argentina evitou alguns problemas, mas enfrenta recessão, queda da arrecadação de impostos e o aumento do desemprego.
Na cartilha dos economistas -não somente os do Cedes-, o aumento do crédito aparece como saída para o ambiente recessivo.
Este foi um dos pontos atacados pelo ministro da Economia com o pacote anunciado na semana passada para o setor financeiro.
Segundo Frenkel, o pacote permitirá que os bancos ganhem com os juros que não recebiam anteriormente (sobre depósitos compulsórios). Também poderão emprestar mais a taxas mais baixas.
Já a proposta de redução da alíquota do imposto sobre o lucro de investimentos estrangeiros pode não resultar no aumento do fluxo de capitais por causa do temor dos riscos, pondera Frenkel.

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