São Paulo, segunda-feira, 4 de setembro de 1995
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Para Feldmann, secretaria resistiu a rodízio

CLAUDIO AUGUSTO; ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário estadual do Meio Ambiente, Fábio Feldmann, 40, admitiu que houve resistência ao rodízio de veículos na Grande São Paulo dentro de sua própria pasta.
A cada dia, 20% dos carros foram "convidados" a não circular.
Ele sugeriu que a prefeitura, em vez de adotar seu próprio rodízio, como quer o secretário Werner Zulauf (Verde e Meio Ambiente), controle a emissão de poluentes dos ônibus a diesel, combustível mais poluente do que a gasolina.
Para Feldmann, a experiência da semana passada legitimou o rodízio em 96. Ele quer cobrar multa de R$ 197,00 (valor de hoje) de quem descumprir a determinação.

Folha - O teste ajudou a viabilizar o rodízio em 96 ou pode ter "queimado" uma boa idéia?
Fábio Feldmann - Temos que ver o rodízio como medida preventiva de defesa civil. A prova de que ela é preventiva é o fato de se realizar no inverno, quando as condições de dispersão são desfavoráveis. Testamos o grau de consciência da população e aumentamos esse grau. Aprendemos com o rodízio. Trabalhamos com comportamento coletivo, algo complexo. Acho que a experiência legitimou o rodízio para 96.
Folha - O fato de a adesão ter caído de 45% (segunda) para 31% (sexta) não o preocupa?
Feldmann - A curva deveria ser descendente. Se você quer ajudar e vê que a maioria não colabora, isso é um fator de desestímulo. Houve um plebiscito em São Paulo. E ele disse não à poluição.
Folha - A maioria da população não aderiu...
Feldmann - Para o rodízio de 96 eu tenho como ponto de partida 38%, quando tinha zero. Estamos só há sete meses no governo.
Folha - Faltou apoio da Prefeitura de São Paulo?
Feldmann - Esse apoio teria ajudado, mas não atribuo à prefeitura qualquer responsabilidade.
Folha - Não houve disputa entre Estado e prefeitura?
Feldmann - Essa colocação é um pouco tendenciosa. Existem visões conflitantes. A minha é de que problemas como esse exigem o engajamento da população. A prefeitura tem uma visão diferente.
Folha - O sr. seria o maior beneficiado com o sucesso do rodízio de veículos...
Feldmann - Tenho uma trajetória na área ambiental. O rodízio é coerente com essa trajetória. É um pouco maliciosa essa colocação.
Folha - Objetivamente, o espaço que o sr. teve na mídia na semana passada foi maior do que o que teve em sete meses...
Feldmann - Sim. Mas e o risco político que eu corri? Dentro de uma estratégia política que eu chamaria de tradicional, os riscos seriam maiores do que os benefícios.
Folha - Não faltou engajamento do governador Mário Covas?
Feldmann - Isso é uma injustiça. Não se trata de ausência de vontade política, mas de dificuldades operacionais. A Cetesb, pela primeira vez em anos, foi às ruas.
Folha - A prefeitura pode fazer um rodízio municipal em 96. O que o sr. acha disso?
Feldmann - Se há interesse em controlar a poluição, comece pelas tarefas que são suas. Os ônibus são municipais. O secretário Zulauf se aproveitou do espaço político que a controvérsia gerou. Sua posição sobre o rodízio variou de acordo com os índices das pesquisas.
Folha - Quais os erros cometidos pela secretaria no rodízio?
Feldmann - Não chamaria de erros. Faltou tempo para engajar a sociedade. O ponto falho foi a falta de capacidade operacional para aumentar a fiscalização de ônibus e caminhões. Houve decisão política, mas ela se esvaziou no problema operacional e na cultura que se pratica na Secretaria do Meio Ambiente. Há resistência cultural quando você muda metodologia, conceito. Talvez tenha faltado articulação com outras secretarias.
Folha - O sr. é candidato à sucessão do prefeito Paulo Maluf?
Feldmann - Não, não sou.
Folha - Essa é uma resposta de um candidato que ainda não pode admitir a candidatura?
Feldmann - Não sou candidato.
Folha - Hoje, o uso do gás natural como combustível está emperrado pela disputa entre Comgás e Petrobrás. O sr. não tem como intervir nesta questão?
Feldmann - O problema é da Petrobrás. Existe uma disputa antiga. Durante anos, a Petrobrás exportava um combustível de boa qualidade e colocava no Brasil um combustível de péssima qualidade.
Folha - Qual a sua posição em relação ao uso do álcool?
Feldmann - O programa do álcool deve ser retomado. Uma boa sugestão é o carro popular a álcool nas regiões metropolitanas.
Folha - Mas isso é viável sem algum tipo de incentivo?
Feldmann - Não sei. Sou contra o subsídio, mas temos que discutir opções de menor custo social. Temos que trocar o combustível dos ônibus. Por que não fazer o usuário do automóvel pagar um pouco mais para viabilizar o trólebus?

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