São Paulo, segunda-feira, 4 de setembro de 1995
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"Tour de France"

FRANCESC PETIT

No último domingo de julho, tive a felicidade de assistir, em Paris, o final da "Tour de France", volta ciclística da França, a convite da GAN, uma das maiores companhias de seguros da França.
A Gan organiza todos os anos uma festa na sede do Automóvel Clube, que também sedia a FISA, na praça da Concórdia, no mesmo edifício do luxuoso hotel Crillon.
Os salões estavam cheios de telões, que transmitiram, passo a passo, todos os detalhes dessa emocionante competição.
Nós preferimos assistir do terraço, vendo os corredores virem pela rua do Rivoli, passarem à nossa frente, na exuberante paisagem da praça da Concórdia e dos Jardins das Tulherias, para alcançarem os Champs-Elysées.
Toda minha vida sonhei em ver o "Tour de France". Quando jovem, queria fazê-lo como competidor, depois como espectador.
Finalmente, realizei meu sonho. Talvez por essa razão é que fiquei tão emocionado, assistindo à gloriosa vitória do fabuloso ciclista espanhol Miguel Indurain. Sem dúvida, um gigante, já considerado o maior ciclista de todos os tempos, pois venceu o "Tour" pela quinta vez consecutiva e pretende continuar vencendo.
Também foi uma oportunidade única de assistir a um espetacular evento de marketing, propaganda, merchandising, promoções de grandes patrocinadores multinacionais e, principalmente, empresas francesas e espanholas.
Isso porque hoje as equipes mais fortes são a do Banco Espanhol Banesto, e a da Once, que é a loteria dos cegos, uma milionária entidade que tem um talento extraordinário para ganhar dinheiro.
O Banesto, que, apesar de ser um banco que acabou de passar por uma intervenção do Banco da Espanha e de ser entregue a novos donos, teve um incremento espetacular de novos correntistas, só com a promoção da sua equipe de ciclistas no "Tour". É que a principal estrela do Banesto trouxe a vitória para a equipe.
Aqui vai uma nota que vi no Figaro sobre o Banesto e Indurain:
"...3,7 bilhões de francos de depósitos. Foi o que ganhou, em julho, o banco privado espanhol Banesto, graças à campanha publicitária baseada no ciclista campeão, Miguel Indurain.
Em 23 dias, duração da corrida, mais ou menos 1,4 bilhão de francos (40% do total) foi conseguido graças à abertura de novas contas.
O banco estima em 600 milhões de francos o que teria de pagar anualmente em publicidade, para o tempo durante o qual o campeão aparece na TV, fala no rádio ou responde à imprensa escrita.
Um resultado interessante quando se sabe que o Banesto investiu neste ano 72 milhões de francos na equipe de ciclistas, dos quais 14 milhões correspondem ao salário de Indurain".
O "Tour" é, sem dúvida, a maior festa da França, em todos os sentidos. São três semanas de corrida, percorrendo quase 4.000 quilômetros e com uma audiência mundial de mais de 500 milhões de telespectadores.
É um evento multimilionário. As equipes, graças aos patrocinadores, são ricas. O talento dos cameramen tornou esse esporte um dos espetáculos mais emocionantes da TV.
Mas, ao contrário de outros esportes, como o circo da Fórmula 1, a Indy ou as ligas de futebol ou tênis, o "Tour de France" é muito mais grandioso e alegre. O país todo torce sem espírito nacionalista ou xenófobo.
Eles torcem pelo melhor, pelo vencedor, com grande espírito esportivo e democrático.
O que importa é essa grande festa do ciclismo, a maior manifestação esportiva da França, batendo até o futebol.
Só para ter uma idéia, todo o percurso -do Arco do Triunfo até o Louvre e todas as ruas subjacentes- fica interditado já no sábado, não podendo circular ninguém pela área. No domingo, havia mais de um milhão de pessoas para assistir o final da "Tour".
Como um gigantesco evento promocional, a organização está iniciando um trabalho de levar o Tour para outros países como exibição, a exemplo do que fizeram uma semana após em Moscou, onde se correu uma etapa em um circuito urbano da capital da Rússia, com os principais ídolos do ciclismo mundial.
Seria muito interessante um dia poder trazer um desses acontecimentos ciclísticos aqui para o Brasil. Isso poderia promover muitíssimo o esporte do pedal e a indústria de bicicletas, assim como a indústria de equipamentos, para a prática desse maravilhoso esporte, tanto para profissionais, amadores ou passeadores.

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