São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Ruth busca discurso equilibrado

SUZANA SINGER
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Em seu discurso ontem em Pequim, a primeira-dama Ruth Cardoso buscou, obsessivamente, o equilíbrio. A cada frase citando melhorias na qualidade de vida da mulher brasileira, seguia-se outra falando que "ainda há muito o que progredir".
Ruth Cardoso falou dos novos direitos da mulher reconhecidos na Constituição de 1988: proibição de discriminação por sexo, proteção às mães solteiras, licença-maternidade de quatro meses. Em seguida, disse: "Trata-se agora de incorporar esses direitos à realidade do dia-a-dia".
Depois, afirmou que as mulheres estão obtendo melhores índices de escolaridade e ocupando uma fatia maior do mercado de trabalho. "Entretanto, persistem grandes diferenças de salário entre homens e mulheres para um mesmo trabalho".
Sobre a participação política, a primeira-dama disse que "a presença das mulheres nas organizações da sociedade civil tem crescido e tem sido marcante".
A ressalva vinha logo depois: "Contudo, ainda é reduzida a presença das mulheres na direção dos partidos políticos, no Congresso Nacional e nos altos cargos do Executivo".
O discurso, feito no plenário da Quarta Conferência Mundial da Mulher, durou dez minutos. Ruth Cardoso foi a 10ª representante a falar, de um total de 16.
Algumas deputadas -que integram a delegação oficial- fizeram críticas ao desempenho da primeira-dama. "Foi um discurso doméstico, de abordagem localizada, sem dar a dimensão globa"l, disse a deputada federal Rita Camata (PMDB-ES).
Para Maria Conceição, 46, deputada distrital (PT-DF), o discurso foi ""superficial, insípido e incolor". Milene Mota, 30, deputada estadual pelo PTB de Rondônia, achou o texto "muito governista".
Ruth Cardoso citou o Programa Comunidade Solidária, presidido por ela. "Entre outros instrumentos de combate à pobreza, o governo brasileiro, em articulação com a sociedade civil, criou o Programa Comunidade Solidária, que presido. Sua estratégia de ação envolve uma estreita colaboração com o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, o que define e garante a perspectiva do gênero no enfrentamento da pobreza e da desigualdade", disse.
Como era esperado, o discurso não entrou em nenhuma das grandes polêmicas que cercam a conferência, como o aborto. O documento que a delegação brasileira, chefiada por Ruth Cardoso, traz à conferência é vago a respeito, mesmo porque, segundo a primeira-dama, "não há consenso sobre o tema".
Um dos discursos mais aplaudidos na sessão de ontem foi o da ministra dos Assuntos da Mulher da Nova Zelândia, Jenny Shipley. Ela criticou a França por fazer testes nucleares no atol de Mururoa, no Pacífico Sul.

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