São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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BC foi conivente com Quércia, diz Covas

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Mário Covas (PSDB) responsabilizou ontem o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e o BC (Banco Central) pelo caos financeiro do Banespa, o banco estadual paulista.
Para Covas, o BC foi conivente com atos ilegais que teriam sido praticados no governo Orestes Quércia (87-91).
O banco está sob administração do BC desde dezembro passado. A intervenção foi motivada pela dívida do Estado com o Banespa, de cerca de R$ 13 bilhões.
"A Justiça vai apurar porque é que se chegou a essa situação. É culpa dos governos que formaram a dívida, sempre com o aval do BC", disse.
A afirmação foi feita logo depois das comemorações pelo 7 de Setembro, no parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo).
Covas aponta pelo menos uma irregularidade em empréstimos feitos por Quércia no final de seu governo: a "ampliação" do prazo para pagamento.
No final de sua gestão, Quércia fez duas ARO (Antecipações de Receita Orçamentária) num valor correspondente a R$ 566,3 milhões. Com os juros cobrados desde 90, esse débito chega hoje a R$ 3,75 bilhões, cerca de 30% da dívida total com o Banespa, segundo Covas.
Esse tipo de operação permite que o governo "antecipe" arrecadação futura por meio de empréstimos. Seu pagamento, porém, deve ser feito em curto prazo (30 dias após sua oficialização).
"Para pagar as operações, o governo fez novos empréstimos, de longo prazo. Quer dizer, trocou uma dívida de curto prazo por uma de longo prazo, o que vai contra a lei", disse Covas.
Procurado ontem, o ex-governador Orestes Quércia não foi localizado para comentar as declarações de Covas.
Em entrevista recente, o ex-secretário da Fazenda do governo Quércia, José Machado de Campos Filho, disse que a legislação, inclusive a Constituição, garantia a legalidade das operações ARO.
O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, não foi encontrado ontem para comentar as afirmações de Covas.
O relatório do banco sobre a situação do Banespa, porém, admite que houve falha do BC ao autorizar as operações de Quércia (veja quadro abaixo).
Covas isentou seu colega de partido, o ex-governador e atual deputado federal Franco Montoro, pela dívida do Estado com o Banespa.
Fleury afirma que boa parte da dívida do Banespa tem origem na gestão Montoro, entre 82 e 86.
Covas disse que o governo continua a negociar com o BC para encerrar a intervenção sobre o banco paulista.

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