São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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É triste

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Anos atrás, quando César Luiz Menotti era o técnico da seleção argentina de futebol, seus críticos no jornalismo esportivo acabaram por fulminá-lo com uma frase curta e grossa: "Menotti é triste".
Pegou, talvez porque Menotti tem cara de tango, o ritmo que é a melancolia feita canção.
Essa condenação irremediável vale para as farpas entre o governador de São Paulo, Mário Covas, e o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Não há como escapar à conclusão de que a política brasileira, como Menotti, é triste. Ou, mais exatamente, está triste.
Suponho que as gracinhas de Covas e ACM não conseguem arrancar nem sequer um sorriso amarelo de quem quer que seja, tão sensaboronas.
Não poderia ser diferente. As boas farpas nascem de uma de duas maneiras: ou são boladas com paciência, para serem disparadas na hora certa, ou nascem no ato, da mais absoluta improvisação.
Covas e ACM, ao contrário, estão sendo "pautados" pelo jornalismo político para produzirem farpas em série. Não há nada mais sem graça do que linha de montagem, ainda que seja linha de montagem de gracinhas.
Vem uma forte tentação de dizer que não se fazem mais políticos como antigamente. Mas é bobagem. Covas e ACM não são exatamente mocinhos. São contemporâneos de mestres das boas frases, como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Jânio Quadros e um punhado de outros.
Covas ainda pode-se perdoar, posto que nunca foi um craque da ironia. Mas ACM perdeu o jeito. Em 85, por exemplo, na campanha eleitoral biônica, consta que mandou trocar a sinalização indicadora das ruas de Salvador para fazer com que se perdesse a comitiva de seu então rival Paulo Maluf.
Sacanagem, claro. Mas tem mais graça do que as frases infanto-juvenis que troca agora com Covas. Pena. Uma das poucas coisas que compensava a obrigação de cobrir assuntos políticos era justamente a chance de ouvir uma boa e demolidora frase.

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