São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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Livro 'Decadência' usa frases de bispo

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Livro 'Decadência' usa frases de bispo
Trechos de entrevista de Edir Macedo em 1900 estão em obra de Dias Gomes que inspirou minissérie da Globo
Frases do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, foram incorporadas pelo pastor Mariel Batista, personagem principal do romance "Decadência", que deu origem à minissérie homônima da Rede Globo.
Trechos de entrevista dada por Macedo à revista "Veja" de 14 de novembro de 1990 constam da página 93 da edição do livro de Dias Gomes, lançado em 1995 pela editora Bertrand Brasil.
As coincidências entre os dois textos foram descobertas pelo cientista social Alexandre Brasil Fonseca, mestrando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que desenvolve dissertação sobre a Igreja Universal do Reino de Deus.
Em meio à polêmica provocada pela minissérie -que estreou no último dia 5-, Gomes e a Globo têm negado que o personagem Mariel (interpretado por Édson Celulari) seja baseado em Macedo.
Em nota lida por Celulari antes da estréia da minissérie, a Globo afirmava que "Decadência" não pretendia criticar "nenhuma religião em particular" nem "qualquer um de seus representantes".
"Decadência" conta como um pastor evangélico enriquece à custa da exploração dos fiéis de sua igreja.
No livro, respostas de Macedo ao repórter de "Veja" foram utilizadas em uma conversa de Mariel com um delegado, Etevaldo Morsa, que investigava acusações de curandeirismo, estelionato e charlatanismo contra o pastor. Macedo já foi processado pelos mesmos motivos.
Ao responder a uma insinuação do delegado sobre acumulação de dinheiro, Mariel utilizou as mesmas palavras de Macedo ao responder a uma pergunta da"Veja":
"O dinheiro é uma necessidade do homem. Na Bíblia ele aparece como uma ferramenta, com a mesma função que o serrote tem para o carpinteiro e a enxada para o lavrador. Sem dinheiro, é impossível viver. O próprio Jesus tinha seu tesoureiro, Judas Iscariotes."
O repórter J.A. Dias Lopes, de "Veja", lembrou a Macedo que dinheiro havia sido o motivo pelo qual Judas traíra Jesus. O delegado do livro fez o mesmo com Mariel.
Macedo começou sua resposta assim: "O dinheiro pode ser usado para o bem e para o mal". As palavras de Mariel no livro foram quase as mesmas: "É que o dinheiro tanto pode ser usado para o bem como para o mal".
Depois, foi a vez de o delegado incorporar as palavras do repórter ao comentar que Jesus era pobre.
Mariel, mais uma vez, recorre a frases ditas por Macedo em sua resposta, com apenas uma alteração: a palavra "equívoco" foi utilizada no lugar de "engano".
"Esse é um tremendo equívoco. Jesus nunca foi pobre. Ele disse: "Sou o senhor dos senhores, o rei dos reis'. E um rei nunca é pobre", afirmou Mariel.
Ainda na página 93, são citados argumentos de Mariel para diferenciar sua igreja -a da Divina Chama- de outras pentecostais (que, como a Universal, privilegiam as manifestações do Espírito Santo).
"Refutava todas (as outras igrejas), já que todas misturavam fé com costumes (...). Na Igreja da Divina Chama era proibido proibir."
Ao responder à pergunta de "Veja", Macedo afirmara que todas as outras igrejas pentecostais misturavam "a fé com os costumes". Completando, em seguida: "Na Igreja Universal é proibido proibir".
Ao longo do livro surgem outras coincidências entre Macedo e Mariel. O pastor de Dias Gomes, além de responder aos mesmos processos de Macedo, é dono de emissoras de rádio e TV e leva sua igreja para o exterior.
A estréia de "Decadência" aumentou os ataques feitos pela Rede Record -que pertence à Universal- à Globo e a seu proprietário, Roberto Marinho.

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