São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Presidente fala a audiência de US$ 1 trilhão

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na encantadora cidadezinha de Bruges, na Bélgica, Fernando Henrique Cardoso vai falar no sábado, dia 16, para uma audiência que, "se se somar o movimento de suas empresas, pode chegar facilmente a US$ 1 trilhão", calcula o embaixador Jório Dauster.
Dauster é o representante do Brasil junto à União Européia, o conglomerado de 15 países que tem como capital Bruxelas, também capital da Bélgica.
O encontro com empresários organizado pelo Citibank reunirá de 20 a 30 presidentes e principais executivos de grandes companhias que ou têm investimentos no Brasil ou pretendem tê-los em breve.
Menos de 48 horas depois, em Frankfurt, capital econômica da Alemanha, o FHC estará de novo diante de uma audiência empresarial de primeira linha, em seminário promovido pelo Deutsche Bank sobre privatização.
Tanto em Frankfurt como em Bruges, a essência da fala de FHC será a de "mostrar que temos um rumo no Brasil", diz o presidente.
Ele vai utilizar o recentemente anunciado Plano Plurianual para deixar claro aos investidores "qual é a delimitação da atuação do governo".
Talvez seja necessário.
"De forma geral, as grandes empresas européias tiveram pouca participação na privatização (no Brasil)", escreve Dirk Messner, diretor-científico do Instituto para o Desenvolvimento e a Paz, de Duisburg, Alemanha.
Mas a visita à Bélgica carrega também no simbolismo. O embaixador Dauster lembra que FHC será o primeiro chefe de governo brasileiro a visitar a sede da União Européia, embora o Tratado de Roma -que lançou os pilares da unificação da Europa- já tenha 38 anos de vida.
"O Brasil não poderia ter uma inserção internacional completa sem uma parceria maior com a União Européia", diz Dauster.
Não que a parceria, hoje, seja insignificante, ao menos vista pelo ângulo brasileiro. Os 12 países que até dia 1º de janeiro último compunham a UE (este ano entraram Suécia, Áustria e Finlândia) respondiam por 33,6% do total de investimentos estrangeiros no Brasil até 31 de dezembro de 1993, o dado mais recente disponível.
Além disso, a UE tem sido a destinatária do maior naco das exportações brasileiras. Em 1994, por exemplo, absorveu 27,12% delas contra 20,24% dos EUA.
O problema é que essa participação está caindo em vez de aumentar. Em 1970, 40,89% das exportações brasileiras seguiam para os países europeus.
Sensível a esse cenário e, acima de tudo, às perspectivas abertas pela crescente consolidação do Mercosul, a UE reagiu a partir do ano passado.
Um documento estratégico aprovado por suas várias instâncias dirigentes diz: "O Mercosul aparece como um novo pólo de crescimento em escala mundial e, para a Europa, como região estratégica-chave."
É claro que, quando se fala em Mercosul, o Brasil salta na frente, pelo tamanho de sua economia.
Natural, portanto, que os responsáveis por US$ 1 trilhão se animem a investir o último sábado de verão europeu para ouvir o presidente de um país ainda periférico no mundo.

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