São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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'Netiqueta' ajuda a desfazer mal-entendidos

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine uma grande praça com 40 milhões de pessoas de países diferentes, culturas, opiniões, religiões e classes sociais diferentes.
Essas pessoas discutem e argumentam o tempo todo, mas não podem se ver e portanto não têm como completar sua comunicação com gestos e expressões faciais.
É mais ou menos assim que a Internet funciona. As confusões que esta situação provoca geraram todo um código de comportamento, a chamada "netiqueta", além de uma coleção de "gestos" eletrônicos que dão inflexão ao texto das mensagens.
O diretor de vídeo carioca Marcello Dantas inventou uma palavra para as confusões via Internet: "misinterneting" (trocadilho com "misunderstanding", desentendimento em inglês).
"Já desisti, por exemplo, de usar ironia na rede. Sempre soa como sarcasmo ou ofensa", diz.
"Uma vez, trocando mensagens carinhosas com uma pessoa chamada Heath, na Inglaterra, um belo dia fui encontrá-la. Para minha surpresa, Heath era um homem enorme. Eu me senti numa situação gay imprevisível."
Para o diretor do Media Lab do MIT (Massachussetts Institute of Technology, EUA), a linguagem na rede mundial de computadores pode adquirir características próprias.
"Sabe quando se deixa duas crianças juntas e elas arrumam um jeito de se entender? As pessoas desenvolverão maneiras de se comunicar pela Internet, códigos, sinais, o que estiver à mão. O inglês será uma língua de intercâmbio geral", afirma ele.
"Assim como o telefone desenvolveu uma gramática de comunicação própria e hoje nós conseguimos expressar nossos sentimentos e entendê-los por ele, a rede ainda vai precisar de muitos mal-entendidos, gigabytes e tempo para criar uma gramática que traduza a complexidade sentimental humana em puro texto", afirma Dantas.
Os sinais que ajudam a comunicação pela rede são os "smileys" (sorrisos) ou "emoticons (emotion + icon, ou seja, emoção + ícone).
Estes símbolos desenhados com caracteres gráficos devem ser lidos inclinando a cabeça para a esquerda (veja ao lado). Embora existam coleções enormes de emoticons, o mais usado é o "sorriso".
Esse recurso aparentemente infantil livra muitas mensagens de mal-entendidos, já que às vezes o sarcasmo e a ironia na Internet são levados a sério.
Outras convenções são equivalentes às da "vida real": mensagens em letras maiúsculas são consideradas "gritos". Um asterisco antes e um depois de uma palavra (*palavra*) serve para "sublinhar" o que está sendo dito.
Mensagens compridas e sem especificação do assunto no cabeçalho são consideradas de mau gosto pelos usuários da rede.
Há listas de "smileys" que podem ser encontradas na Internet e também "manuais de netiqueta". O manual de Arlene Rinaldi, por exemplo, recomenda o uso de acrônimos para tornar as mensagens mais curtas.
Os acrônimos são outro recurso comum. Abreviam expressões comuns em inglês. Por exemplo: IMHO (In My Humble Opinion, na minha humilde opinião) ou BTW (By The Way, de qualquer forma). Ou ainda RTFM (Read The Fucking Manual, leia o maldito manual), menos simpático.

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