São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Violinista de Caetano veio da Floresta Negra

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL<UN>

A violinista Ana Maria Ramos de Oliveira, 28, tirou férias na Alemanha - onde mora há oito anos e dá aula numa cidade na Floresta Negra - e acabou arranjando trabalho no Brasil.
Ela é a moça de presença forte e vigorosa que toca na orquestra do show Fina Estampa, de Caetano Veloso, em cartaz há três semanas na casa de espetáculos Tom Brasil.
Ana Maria chegou a São Paulo há pouco mais de um mês - depois de praticamente seis anos sem visitar o país - disposta a viajar pelo litoral da Bahia.
O convite para participar da orquestra a fez perder (literalmente) o norte. “Sou fã de carteirinha de Caetano. Não precisava nem ganhar para trabalhar com ele.”
Ana Maria agora se prepara para voltar ao Brasil.
A violonista tem planos de trabalhar com improvisação, que, no caso dela, vem com influências de Debussy, Bach, Frank Zappa, Charles Mingus, Tom Jobim, Hermeto Paschoal, Chico Buarque e Caetano.
Segundo Ana Maria, o Brasil é melhor que a Europa para desenvolver seu lado “popular”.
“O clima entre músicos é mais ‘relax’. Lá, além da competição, eles são tensos e muito racionais. Demorei anos para ter um certo nível de intimidade com os alemães”, queixa-se.
Depois de todos esses anos de “desligamento” do Brasil, ela se aproxima de novo do país onde nasceu. “Estou mais próxima de mim mesma. Quero olhar mais para a minha linguagem, para o meu idioma, para o meu país”, diz.
Ana Maria vive hoje em Freiburg (Alemanha) e dá aulas de violino na escola Kolleg St. Blasien, na Floresta Negra.
Ela apresenta também um programa de música brasileira na rádio Dreyeckland, aos domingos, integra a Orquestra de Câmara de Heidelberg, toca no Grupo Tingará, de música brasileira, e na banda Mr. King’s Delite, de música pop.
Os ecos desse reverberante currículo chegaram antes dela ao Brasil: só faltou o spalla (principal solista de violino) da orquestra de Fina Estampa, Auduino Nunes, ir esperá-la em Cumbica com a papelada da contratação na mão. “Ela é fenomenal”, diz Nunes.
O maestro Jacques Morelembaum, que pouso contato tem com os 35 integrantes da orquestra, percebeu, de saída, a diferença. “Ana Maria tem uma energia própria. Ela vibra com a música.”
Violinista desde criança, Ana Maria começou a tocar há 23 anos, quando tinha cinco.
Seu interesse pelo violino surgiu por causa da música clássica que o pai costumava ouvir. “Adorava aquele som e quis aprender a tocar. Meu pai comprou logo em seguida um violino tamanho 1/4, próprio para crianças.”
A partir daí, a história da menina virtuose se repete. Professores embasbacados, recitais particulares e a rebeldia de praxe. “Dei trabalho e ameacei parar de tocar se continuassem me pressionando para estudar. Na verdade, não pararia. A única certeza que eu tinha na vida é que amava a música.”
No fim do 2.º grau ela escreveu para um contato que tinha na Escola Superior de Música de Freiburg, no sul da Alemanha.
Mandou seu currículo, conseguiu uma bolsa de estudos e comprou uma passagem para Berlim.
Ana Maria gosta de ouvir quase tudo. Sua única restrição é a música “techno”, que ela acha “maquinal, feita para debilizar a juventude”. Ela diz que continua dedicando mais tempo para Bach do que para músicas populares, mas o seu envolvimento com a música regional brasileira é flagrante. “Adoro ritmos nordestinos”, diz.

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