São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Salário despeja R$ 2 bi na economia

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

A concentração de datas-bases de categorias fortes e o pagamento do 13º salário farão a massa salarial crescer R$ 2 bilhões neste segundo semestre, estima Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese (órgão de assessoria econômica dos sindicatos).
São mais de 3 milhões de trabalhadores fortemente organizados com dissídio entre setembro e dezembro, que podem conseguir, além de reposição de perdas, aumento real nos seus salários.
Mas a maior parte desses R$ 2 bilhões, ao contrário do que aconteceu em 94, não irá para o consumo, avaliam sindicalistas, empresários e economistas.
"O pessoal está escaldado e não vai consumir tanto como em 94. Grande parte dos aumentos salariais irá para o pagamento de dívidas", diz Mendonça.
"A economia está fraca e o assalariado teme perder seu emprego hoje. Isso provoca cautela nos gastos com consumo", afirma Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo.
Segundo ele, se as vendas do comércio no segundo semestre deste ano ficarem iguais às do mesmo período em 94 já está "mais do que bom". Mas sua expectativa é que haja retração.
"Mas isso não será um grande problema. Os patamares de 94 foram elevados", afirma.
Wilson Começanha, diretor do Sindipeças (representa o setor de autopeças), acredita que algumas empresas do seu setor, que negociam com os metalúrgicos de São Paulo, com data-base em novembro, terão dificuldades até mesmo para repor perdas salariais.
"Estamos sem dinheiro. Há o caso de filiadas que já tiveram de recorrer aos bancos para pagar salários", afirma. "O que dá para negociar com os metalúrgicos é, no máximo, participação nos lucros ou resultados. Aumento real, nem pensar", afirma Começanha.
A situação, no entanto, varia de acordo com o setor. Os trabalhadores das indústrias de massas e biscoitos, com data-base este mês, já conseguiram aumento real de 7% e de 10% nos pisos, em acordo fechado esta semana.
"As vendas de massas e biscoitos estão crescendo e a gente não está verificando demissões", afirma Melquiades de Araújo, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação no Estado de São Paulo.

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