São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Livro mostra horrores que seduziram EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Mathew Brady foi um precursor de David Lynch e Diane Arbus: o artista que se especializa em usar o bizarro como forma de expressão estética.
Suas fotos de mulheres barbadas, irmãos siameses, gigantes, anões exibidos no Museu Americano de Curiosidades Vivas estão no livro "P. T. Barnum: American Greatest Showman", a ser lançado este mês nos EUA.
Brady ficou famoso e rico graças a Barnum, o objeto do livro de Philip Kunhardt Jr. e outros autores, publicado pela respeitada editora Alfred Knopf.
Phineas Taylor Barnum (1810-1891) foi um dos personagens mais excêntricos e complexos da vida cultural dos EUA do século 19.
Começou a vida como jornalista, mas aos 24 anos encontrou sua vocação ao exibir para o público de Nova York uma mulher negra chamada Joice Heth, que ele dizia ter 161 anos e ter sido enfermeira de George Washington.
O sucesso foi tão grande que ele se especializou em espetáculos com exemplos extremados da forma humana: "Eu só quero aqueles que representem peculiaridades distintas e inesperadas em sua aparência", dizia.
Alguns eram farsas, como a sereia Feejee. Outros, autênticos, como os siameses Chang e Eng Burker. Todos transformaram Barnum num milionário respeitado pela elite da época.
Calcula-se que 82 milhões de pessoas pagaram ingressos entre 1842 e 1868 para visitar seu museu de horrores. Entre eles, Charles Dickens, Henry James e Eduardo 7º da Inglaterra, quando ainda príncipe de Gales.
Barnum e seu maior êxito, o anão Charles Stratton (1838-1883), conhecido pelo nome artístico de Tom Thumb, foram recebidos pelo então presidente Abraham Lincoln e se apresentaram em Londres diante da rainha Vitória.
Dezenas de milhares de fotos das núpcias de Tom Thumb com Lavinia Bump em 1863 foram vendidas a US$ 0,25 cada no dia do casamento, celebrado no museu de Barnum, diante de público recorde, que reservou ingressos meses antes.
Nesta e em outras fotos de Brady, o que mais impressiona é o sentido de dignidade dos objetos da objetiva que o fotógrafo foi capaz de preservar, embora fosse tão fácil torná-los ridículos.
Brady (1823-1896) foi um dos mais sofisticados fotógrafos de seu tempo. Aprendeu o ofício com Samuel Morse, o inventor do telégrafo. Retratou todos os presidentes dos EUA de John Quincy Adams a William McKinley.
Seu maior projeto, documentar em detalhes a Guerra Civil (1861-1865), o levou à falência, mas lhe deu glória póstuma.
Tudo o que ganhara com os horrores de Barnum (US$ 100 mil), Brady gastou com uma equipe dos melhores fotógrafos da época durante a Guerra Civil.
Ele achava que o governo compraria o seu acervo, mas o sucessor de Lincoln, Andrew Johnson, não demonstrou o menor interesse por ele.
Brady morreu alcoólatra num hospital de caridade.
Seu parceiro Barnum teve melhor sorte. Depois de ter perdido seu museu em dois incêndios sucessivos, resolveu e conseguiu adquirir prestígio.
Primeiro, ajudou a popularizar a música lírica nos EUA, promovendo grandes recitais de sopranos européias. Depois, entrou na política e se elegeu deputado e prefeito.
No fim da vida, concebeu o circo de três picadeiros simultâneos, que ele chamou de "o maior espetáculo da Terra" e ganhou mais dinheiro que nunca.
Fundou com James Bailey o Circo Bailey e Barnum, que existe até hoje, importou o Zoológico Real de Londres o elefante africano Jumbo e ganhou com ele mais dinheiro do que nunca.

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