São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995 |
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Missa atrasa concerto do Cantus Cölln
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Deu-se uma batalha entre sacro e profano. Por fúria do Zeus católico ou má vontade dos monges, o concerto atrasou 1 hora e 20 minutos e a música bem executada pelo grupo -cinco vozes e um alaúde- quase não foi ouvida pelas mais de 300 pessoas que superlotaram o templo. Um mal-entendido fez com que o mosteiro agendasse para a mesma hora do espetáculo, 20h, uma longa missa de formatura. Resultado, a missa teve audiência incrível. O público do concerto invadiu o templo e, para guardar lugar, permaneceu na cerimônia. A parte da platéia que esperou fora se espantou ao entrar no mosteiro, às 21h10, e se deparar com todos os bancos lotados e o programa do concerto já distribuído. Participantes da missa aproveitaram para ficar e ouvir os cantos da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Os recém-chegados tiveram que se sentar no piso por duas horas. A propalada acústica do mosteiro fez fiasco. A partir da décima fila de bancos ninguém ouvia um acorde do alaúde de Konrad Junghänel, chefe do grupo. A delicadeza das vozes não combinou com a amplidão do espaço. Mas quem estava bem perto pôde entender por que Cantus Cölln é um dos mais afiados grupos de música histórica atuais. Interpretou os madrigais cromáticos de Heinrich Schütz (1585-1672) e as canções paródicas de Valentin Rathgeber (1682-1750) e Johann Hermann Schein (1586-1630). Reviveram essas plataformas de sublimação da realidade da guerra. Cantus Cölln dá no Brasil uma lição de orçamento. Mostra que com pouco dinheiro é possível fazer música de alto extrato. O sexteto canta amanhã em Porto Alegre e sexta em Belo Horizonte. A sugestão é os anfitriões fazerem estudo acústico dos locais de apresentação. O mosteiro se revelou acústica e ideologicamente incorreto. O altar cristão quase silenciou Cupido. Texto Anterior: Quartetos de cordas tocam em São Paulo Próximo Texto: O museu de gente Índice |
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