São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cautela cara

ANDRÉ LAHÓZ
As restrições para a entrada de capital externo adotadas em agosto foram eficientes para diminuir fortemente o fluxo de dólares no país. Mas parecem não ter sido suficientes.
Até agora, quase US$ 1 bilhão já foi internalizado em setembro. É bem menos do que os US$ 5 bilhões de agosto, mas é ainda um número muito alto.
Ter muitos dólares tem, certamente, um lado positivo. Para os países saindo de fases de superinflação, como o Brasil, chega a ser fundamental.
Um banco central em posição de força inviabiliza ataques especulativos contra a moeda. A crise mexicana ilustra bem os problemas que a falta de divisas traz quando países se encontram em dificuldades.
Mas ocorre que o Brasil já está com um nível confortável de reservas. Espera-se um número de US$ 50 bilhões, ou ainda maior, até o final do ano.
Na verdade, este é um montante que já incomoda. O custo para que o país mantenha essas reservas é altíssimo.
Ao entrar no Brasil, os dólares são trocados por reais, que passam a circular. Mais reais tendem a provocar aumento no nível de preços. Para evitar a volta da inflação, o governo lança títulos públicos, enxugando a liquidez da economia.
Ou seja, o governo fica com os dólares e dá títulos públicos.
Os dólares são aplicados no mercado internacional, rendendo pouco (cerca de 6% ao ano).
Os títulos públicos, por outro lado, custam muito mais (algo como 27% acima da desvalorização cambial).
O governo, portanto, cria uma bomba-relógio. Evita um problema agora, mas acumula uma dívida muito cara, que deverá ser paga futuramente.
Pode-se imaginar duas saídas para este problema.
A primeira seria aumentar restrições à entrada de dólares.
Mas são medidas que, de um lado, trazem danos à imagem do país e, de outro, acabam sendo burladas pelos operadores do mercado financeiro.
No limite, pode-se proibir a entrada de capital. Mas é pouco provável que isso ocorra.
A segunda alternativa é eliminar a verdadeira causa do ingresso de capital. Em outras palavras, é preciso reduzir a taxa de juros.
A diferença entre os juros internos e externos é tão gritante que se torna difícil acabar com o fluxo. É esse o principal motivo da continuidade da entrada de dinheiro.
O Banco Central vem praticando juros menores nas últimas semanas. Mas a queda ainda é muito pequena.
Há mais um argumento a favor dos juros menores. As taxas de inflação estão despencando, chegando mesmo a apresentar variação negativa. E não se vêem motivos para grandes altas nos preços nos próximos meses.
Com os preços calmos, há um espaço maior para a queda dos juros.
Isso não quer dizer que o dinheiro poderia parar de entrar no país. O Brasil é um país da moda atualmente, talvez o mais atrativo dos mercados emergentes.
Os investimentos diretos estão aumentando e a tendência é que continuem crescendo.
O que a queda dos juros possibilita é a diminuição de dinheiro de prazo mais curto.
Cauteloso, o governo certamente irá esperar sinais mais claros de desaquecimento econômico. Mas essa cautela custa muito caro.

ANDRÉ LAHÓZ, editor de Economia da Folha, escreve às quartas-feiras nesta coluna.

Texto Anterior: Com otimismo; O que pesa; Pauta diversificada; Marcha engatada; Para equilibrar; Mais uma; Exemplo uruguaio; Farol nacional
Próximo Texto: As patentes e o monopólio da cura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.