São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995 |
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'Casamento de Muriel' tem heroína brega
JOSÉ GERALDO COUTO
A começar pela própria família da moça: o pai é um empresário corrupto e cafajeste, a mãe é uma tonta e os irmãos estão em algum lugar entre o autismo e o retardamento. Todos são gordos e feios. As colegas e vizinhas não são melhores: só pensam em casar com os rapazes mais ricos e bonitos e rejeitam Muriel sem dó: "Não queremos que você ande com a gente", diz-lhe uma das mais cruéis. A opção mais ousada do filme, ao descrever esse pequeno inferno, foi incorporar em sua própria estética o romantismo brega de Muriel: música do grupo ABBA, catálogos de noivas, vestidos com babados, fotografia enevoada... Tudo no filme é enjoativo como aqueles cadernos em que as meninas colecionavam versinhos e decalques de flores. Só que existe sempre um descompasso entre o sonho romântico e a realidade de trombadas e tropeços da estabanada Muriel, um dos personagens mais grotescos e patéticos do cinema recente. Há algo de paradoxal nessa adesão ao imaginário da protagonista: com seu final "feminista" e feliz, "O Casamento de Muriel" parece sucumbir à fórmula do melodrama tranquilizador; mas a verdade é que, até então, o filme foi implacável com a vida contemporânea como poucos outros têm a coragem de ser. Paradoxal e ambíguo, misto de comédia feroz e melodrama enjoativo, "O Casamento de Muriel" é como uma iguaria exótica para estômagos fortes. Comprova, de resto, a maturidade do cinema australiano, que oferece ao mundo uma das filmografias mais variadas e vigorosas. Vídeo: O Casamento de Muriel Produção: Austrália, 1994, 105 min. Direção: P. J. Hogan Elenco: Toni Collette, Bill Hunter, Rachel Griffiths, Jeanie Drynan Distribuição: Top Tape (tel. 011/826-3066) Texto Anterior: 'Vida Louca' registra vida barata Próximo Texto: Antonio Farinaci desmitifica o bolero Índice |
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