São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 1995
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Zines devem muito aos computadores

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Não é em qualquer revista do mundo que você vai encontrar um artigo com o título "Como fazer operações caseiras em seu gato". Ou um guia para os melhores vibradores do mercado.
O fato é que tem muito americano se divertindo com o conteúdo dessas "reportagens", publicadas por revistas de fundo de quintal conhecidas como zines.
O nome surgiu do fato de que os próprios editores reconhecem que são revistas pela metade.
O fenômeno não é novo, mas foi a revolução da informática que permitiu o surgimento de tantas publicações ao mesmo tempo.
Pela última contagem, há mais de 15 mil zines no Estados Unidos, a maior parte produto de gente com uma idéia na cabeça e um computador capaz de cuspir algumas centenas de cópias por edição.
Houve um tempo em Nova York que o pessoal do "underground" ia esperar nas bancas a chegada do tablóide "Village Voice", com suas reportagens culturais e as críticas aos governos conservadores.
Hoje, o "Voice" anda em baixa e quem realmente se interessa pela imprensa alternativa compra um ou mais zines à venda em bares, clubes noturnos ou lojas de discos de "downtown".
Pelos padrões de uma editora, a maioria dessas publicações nem mereceria o nome de revista.
Os zines, afinal, não obedecem às regras do jornalismo convencional. Alguns são nada mais que folhas de papel juntadas por um grampeador. A periodicidade depende da disposição do editor.
Nessa nova imprensa alternativa, a única regra parece ser aquela que confere a qualquer um o direito de lançar seu próprio zine.
Na Califórnia, Darby Romeo sonhou com a morte do futuro marido e achou o nome ideal para criar "Ben Is Dead", zine dedicado a temas exóticos da vida noturna de Los Angeles.
Ela produz o zine sozinha, de madrugada, em seu computador doméstico. Uma edição recente revelou o resultado de um teste com os vibradores à venda nas melhores lojas do ramo. Romeo, a editora, não é mais casada com Ben. Imaginem por quê.
A irreverência é a marca principal dessas publicações. Uma delas, "The I Hate Brenda Newsletter", serve de veículo para que os telespectadores descarreguem sua raiva contra uma personagem perua de um seriado de TV.
Há zines dedicados a todo tipo de interesse. Dos que ensinam como assumir a homossexualidade diante de familiares aos que acompanham a vida extraconjugal de políticos do país.
A maioria dessas publicações não busca o lucro, mas há aquelas que acabam conquistando um nicho do mercado.
Um ex-jornalista da "Playboy" foi apanhado de surpresa pelo sucesso da cobertura cultural de seu zine: 8.500 cópias vendidas na última edição de "Answer Me!" -faturamento de US$ 20 mil.
Analistas da mídia atribuem o fenômeno à combinação de dois fatores.
Os analistas concordam que essa revolução editorial está apenas começando. O crescimento da Internet tem sido acompanhado pelo surgimento de centenas de zines eletrônicos, distribuídos pelas redes de computador. Ainda bem.
Só ali mesmo para obter dicas sobre como evitar sequestros por seres extraterrestres, no e-zine especializado em discos voadores.

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