São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Violeta Vita" disseca ardente paixão feminina

DANIELA ROCHA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

A primeira "lesbian play" (peça sobre lésbicas) a ser encenada no Brasil estréia amanhã, em São Paulo. Não por coincidência, a maior parte da produção foi feita por mulheres, já conhecidas, do teatro.
É "Violeta Vita", baseada na vida de duas escritoras inglesas do início do século: Violet Keppel Trefusis e Vita Sackville-West.
A idéia de montar um espetáculo sobre as cartas trocadas entre as duas escritoras surgiu há mais de um ano, quando as atrizes Claudia Schapira e Lú Grimaldi ainda encenavam a peça "Pentesiléias", de Bete Coelho.
"Começamos uma pesquisa intensa para achar a história certa. Queríamos abordar o tema da paixão transbordante, da transgressão", afirma Lú.
Quando leram as cartas de Vita e Violet, saíram à caça das produções literárias das duas escritoras e entregaram tudo nas mãos do dramaturgo Luiz Cabral.
Beth Lopes (de "O Cobrador") assumiu a direção geral há dois meses, quando os ensaios começaram, com assessoria de Renata Melo (de "Bonita Lampião") para expressão corporal. Daniela Thomas fez o cenário. Para contrapor o trabalho de tantas mulheres, a trilha é de André Abujamra.
Na Inglaterra dos anos 20, ser lésbica era crime de cadeia. Vita e Violeta eram muito próximas desde a infância e, quando se viram loucamente apaixonadas, usavam como subterfúgio a literatura. "Elas escreviam romances em que retratavam suas próprias histórias de vida", afirmam Lú e Claudia.
Mas como eram mulheres muito ricas e independentes, não se preocupavam em esconder o romance entre elas. "A pressão social fez com que se separassem", dizem. E, mais tarde, Vita viria a ser amante de Virginia Wolf.
Mas a peça não é um drama deslavado. Para fugir da tragédia, Luiz Cabral conseguiu destacar momentos de humor nas entrelinhas do espetáculo. "A peça é um olhar pela fechadura e, quando você vê do outro lado uma grande paixão, descobre como tudo aquilo é patético e como nós todos sofremos de uma idiotice de amor, como somos vulneráveis", resume.
Para tornar a peça mais envolvente, Cabral optou por diálogos curtos. "Uma peça sobre paixão deve ter ritmo frenético, mas sem perder a poesia."
A libido e o erotismo estão sempre presentes no espetáculo. "Todo mundo tem um voyeur dentro de si", afirma Beth Lopes. "Mostramos aqui o que acontecia na intimidade dessas duas mulheres. É uma história atemporal."
Mais do que isso, insistem as atrizes, qualquer um se identifica com a história, independentemente de sexo. "Na peça, fica nítido que o mesmo que fascina e apaixona duas pessoas serve para afastá-las depois da conquista", diz Claudia.
'Gay Plays'
Três peças fecham o circuito de "gay plays" (peças com temática homossexual) em cartaz: "Angels in America", "O Melhor do Homem" e, agora, "Violeta Vita".
Esta, no entanto, é a única sobre lésbicas. Para Cabral, não se trata de moda. "Por alguma razão, pessoas diferentes de lugares diferentes realizam obras com temáticas semelhantes."
Segundo Lú Grimaldi, a idéia de fazer "Violeta Vita" surgiu muito antes do estouro das "gay plays". "É um espetáculo que transcende o amor entre duas mulheres porque uma paixão louca qualquer um pode ter."

Espetáculo: Violeta Vita
Texto: Luiz Cabral
Direção: Beth Lopes
Elenco: Claudia Schapira e Lú Grimaldi
Quando: estréia amanhã, às 21h30 (de qui a sáb, às 21h30; dom, às 20h30)
Quanto: R$ 8,00
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)

Texto Anterior: Sambalândia abre alas ao acasalamento
Próximo Texto: Coreógrafa usa guarda-pó e baú
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.