São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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Polícia invade jornal na Argentina

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Três meios de comunicação argentinos sofreram invasão policial nesta semana -o jornal "La Nacion", de Buenos Aires, o "Nuevo Diário" e a LV 11 Rádio Difusora, ambos de Santiago del Estero (a 1.042 km da capital).
Quatro policiais entraram na redação do "La Nacion" anteontem e exigiram que o jornal desse o nome do jornalista que apurou notícia publicada em setembro de 1993, e suas fontes de informação.
A ordem foi assinada pela Câmara Nacional de Apelação, de Buenos Aires. Segundo a Folha apurou, a decisão foi tomada à revelia da juíza federal Angela Braidot, que conduzia o caso.
A juíza foi procurada em seu escritório. A única informação fornecida foi a de que ela saiu de licença no último dia 4, oito dias antes da invasão policial ao jornal.
Reportagem publicada pelo "La Nacion" há dois anos dizia respeito a um processo de calúnia e injúria movido por um juiz argentino contra dois advogados. Trazia o título: "Falso advogado".
Segundo a direção do jornal, a determinação judicial extrapolou o artigo 43 da Constituição, que estabelece o respeito ao segredo das fontes jornalísticas. Também feriu outros dois artigos que tratam da liberdade de imprensa.
Na tarde de ontem, o juiz Luiz Maria Argañaras, de Santiago del Estero, suspendeu a intervenção a dois meios de comunicação locais -o jornal "Nuevo Diário" e a LV 11 Rádio Difusora AM-FM.
Ambos pertencem à família Cantos e mantêm uma linha editorial de confronto com o governo da Província. A intervenção se estendeu por 43 horas.
Foram mobilizados 15 policiais na invasão do prédio onde funcionam o jornal e a rádio.
A intervenção havia sido decretada por causa da publicação de uma reportagem, no dia 25 de julho. Denunciava um juiz recém-nomeado que teria sido processado por roubo de cheques.
"Trata-se de perseguição política", disse José Maria Cantos Filho, dono do grupo de comunicação e autor da reportagem.
Cantos também acusou o interventor nomeado pelo juiz, Flávio Roberto Giglio, de prática de censura prévia.
Segundo Giglio, que é candidato à Prefeitura de Santiago del Estero, a decisão levou em conta dívidas pendentes na Justiça acumuladas pelo grupo.
Afirmou ainda que apenas pediu aos jornalistas que "não exagerem na oposição ao governo e exponham os fatos com claridade e sem malícia".

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