São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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CLÓVIS ROSSI

BRUXELAS - Vista do Palácio do Planalto, a viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso à Europa leva a marca da normalidade, o que, em tese, é a antinotícia.
"Os problemas que agora podem existir, como a reação às cotas para veículos, são coisas que eles podem compreender", diz, por exemplo, o embaixador Gelson Fonseca, o assessor diplomático de FHC.
"O que eles não conseguiam entender é, por exemplo, inflação de 40% ao mês", compara Fonseca.
Pode ser euforia precoce, mas não deixa de ser a realidade do momento. Afinal, temas como as cotas e a elevação das tarifas de importação para veículos fazem, de fato, parte da agenda internacional contemporânea.
Quem duvida, que se lembre da ameaça de guerra comercial entre Japão e Estados Unidos, desativada faz apenas três meses.
Crises no sistema bancário, como a do Econômico, outro tema de inquietação na Europa, ocorreram ou estão ainda em andamento no Japão, na Rússia e na Argentina, para não mencionar a quebra do tradicionalíssimo banco Barings inglês no início do ano.
Logo, quando os europeus se queixam das cotas brasileiras para veículos ou temem que o governo entre com dinheiro para salvar o Econômico estão lidando com assuntos fáceis de se compreender.
Podem até não gostar das ações que o governo brasileiro adotou ou adotará em um ou outro caso, mas se trata de discutir algo tangível e não o que aparece aos olhos europeus como esoterismo puro, caso da inflação descarada.
A favor de FHC joga também o fato de ser uma personalidade conhecida internacionalmente, pelo menos nos meios acadêmicos, antes mesmo de ser presidente da República.
Há um natural fascínio pelo que diz e, principalmente, pelo que faz um intelectual quando no exercício do poder, talvez porque são poucas as pessoas em tal condição no mundo.
O desafio de FHC na Europa é o de convencer seus interlocutores de que essa normalidade será duradoura. A maioria ainda desconfia.

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