São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 1995
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Cena cultural mistura ópera e magnatas

MARCELO REZENDE

Do nascimento da filosofia à vida amorosa de Maria Callas e Aristóteles Onassis, tudo faz parte do melhor do país
Da Reportagem Local
A Grécia, ao menos culturalmente, parece estar condenada a ser lembrada (por muitos) como o lugar em que milionários se casam com viúvas de presidentes americanos. Ou ainda (por poucos), pelo surgimento da Filosofia.
Parmênides, Platão e Aristóteles nasceram ali. Mas foi com Onassis e seu casamento com Jacqueline Kennedy, em 1968, que o país, em manchetes escandalosas, confirmou o status de refúgio idílico.
Antes de Onassis, só o cinema serviu como veículo de propaganda melhor. "Zorba o Grego", de Michael Cacoyannis, filmado em 1963, trazia o mexicano Anthony Quinn como um habitante da ilha de Creta que ensina a um jovem professor como aproveitar, da melhor maneira possível, todos os prazeres que a vida oferece.
Como consequência, Quinn ficou para sempre marcado como o "grego" de Hollywood. Quase todos os seus personagens, depois de "Zorba", ganharam uma ascendência do mediterrâneo.
Mas, "Zorba o Grego" ajudou também a ampliar o público do autor do livro que originou o filme: Nikos Katzantzakis (1883-1957).
Katzantzakis começou a escrever ainda na adolescência, e passou metade de sua vida viajando, da Europa ao Oriente Médio, tendo sempre presente o que ele qualificava como uma preocupação metafísica: "a angústia de descobrir que o homem não é a criatura preferida de Deus", escreveu em "Testamento para El Greco", um trabalho autobiográfico.
E foi por meio de uma "preocupação metafísica", e também pelo cinema, que sua obra voltou à mídia. Katzantzakis é o autor de "A Última Tentação de Cristo", filmada pelo americano Martin Scorsese em 1988.
Quem possuia preocupações semelhantes as de Katzantzakis era o pintor Giorgio de Chirico (1888-1978), fundador da "Pintura Metafísica", que nasceu grego e morreu italiano.
Depois de completar seus estudos na Academia de Belas Artes de Munique, e de uma temporada em Paris, onde foi notado por Picasso e o poeta Guillaume Apollinaire, sua pintura se voltou para um outro repertório de imagens: de manequins a biscoitos.
Menos prosaica foi a bela Maria Callas (1923-1977), um dos grandes mitos da ópera da idade moderna. Sua vida teve tudo o que os folhetins mais adoram: fama, sucesso e um coração partido.
Ela começou a cantar ainda criança e, apesar de sua curta carreira internacional, pouco mais de 12 anos, sua voz serviu para marcar um tempo antes e pós-Callas.
Sobre sua vida sentimental, basta dizer que ela era a senhora Onassis até a chegada de Jacqueline. E, segundo o musicólogo italiano Bruno Tosi, sua tendência sempre foi as paixões enganosas. Em livro sobre Callas, publicado na Itália, Tosi afirma que seu último amor foi o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini que, homossexual, não teria correspondido.
Mas, falar de uma cena cultural grega é lembrar também o trabalho do poeta Constantin Kavávis (1863-1833), que influenciou uma geração de poetas e prosadores.
Aliás, ser poeta na Grécia, terra de Homero e de sua "Odisséia", nunca foi a mais fácil das tarefas. Ao menos por lá, a angústia da influência é mais fato que teoria.

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