São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995
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'A Felicidade É...' traz episódios cômicos sobre sonhos e fracassos

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: A Felicidade É...
Produção: Brasil, 1995
Direção: Cecílio Neto, Jorge Furtado, José Roberto Torero e José Pedro Goulart
Elenco: Paulo Autran, Débora Bloch, Pedro Cardoso, Jofre Soares
Onde: no Espaço Banco Nacional de Cinema (rua Augusta, 1.475, tel. 011/288-6780)

Quatro dos mais premiados curta-metragistas do país se reúnem para fazer um longa-metragem de episódios. A felicidade seria ver, como resultado, um grande filme, digno da soma de tantos talentos.
Mas a felicidade, como sabemos, é uma quimera, e este tão aguardado longa-metragem (premiado, aliás, no último Festival de Gramado como melhor filme pelo júri popular e melhor longa brasileiro) deixa no espectador um sabor de promessa não-cumprida.
Não que o filme seja ruim ou desinteressante. Pelo contrário: é até um prodígio que uma produção tecnicamente tão boa tenha sido feita com um orçamento tão restrito -R$ 90 mil, cerca de 15% do que gastou "Carlota Joaquina".
E as histórias não são desprovidas de encanto ou interesse.
Na primeira delas -"Sonho", dirigida por José Pedro Goulart-, um escritor em crise (Cassiano Ricardo) rouba os sonhos da mulher (Denise Fraga) para escrever um livro.
No episódio de José Roberto Torero, "Bolo", um casal de velhos (Jofre Soares e Vanda Lacerda) troca frases mórbidas e ressentidas enquanto espera ficar pronto um bolo de aniversário.
"Cruz", de Cecílio Neto, focaliza também dois velhos (interpretados por Paulo Autran e Assunta Perez), que se reencontram depois de 50 anos.
O astral só melhora no último episódio, "Estrada", de Jorge Furtado, em que dois jovens casais se preparam para uma viagem de férias ao campo.
O que decepciona, no conjunto, não é tanto a obsessão precoce desses jovens cineastas pelos temas da velhice e do fracasso. Mas sim a falta de ousadia estética, uma espécie de cansaço criativo, uma adesão à ligeireza narrativa das minisséries e especiais de TV.
Não se encontra nesses episódios a vitalidade de outros curtas-metragens brasileiros recentes, como "Lá e Cá", "Útero", "Socorro Nobre", "Onde São Paulo Acaba" e "Criaturas que Nasciam em Segredo", só para citar os exemplos mais díspares.
Tudo somado, "A Felicidade É..." não deixa de ser um bom filme, com alguns momentos inspirados, como o genial desfecho do sonho maluco do primeiro episódio, ou os hilários planos de Pedro Cardoso para suas férias no campo ("Quero ficar deprimido uma hora, mais ou menos").
Além disso, é sempre um prazer ver em cena, bem dirigidos, atores como Jofre Soares e Paulo Autran.
Mas a felicidade é mais que isso.

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