São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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FHC pede regras para relação com empresa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

Vinte e quatro horas depois de Henrique Hargreaves ter se demitido dos Correios, por estar também prestando consultoria ao Sebrae, o presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu "regras claras" para a relação entre funcionários do governo e consultorias privadas.
Mas sugeriu cautela nas acusações a esse tipo de pessoas. "Não vamos também começar a endemoninhar tudo", afirmou, em entrevista coletiva concedida no final da tarde no Hotel Conrad, em que se hospeda em Bruxelas.
Disse mais: "Não se pode imaginar, em uma sociedade do tipo da nossa, com livre mercado, que as pessoas que estão no mercado, por estarem no mercado, são culpadas".
O presidente disse que o importante é que o funcionário seja honesto, "porque tem gente que não tem consultoria nenhuma e, por ser desonesto, passa informações (do governo ao setor privado)".
Como há também, sempre segundo FHC, "muitas pessoas que têm ou tiveram ligação (com o setor privado) e são corretas".
O uso do verbo no presente fez uma repórter perguntar se há mais gente no governo com participação em consultorias particulares. O presidente respondeu que não sabia.
A Folha apurou, no entanto, que o governo suspeita que há, sim, outros funcionários que mantêm ou mantiveram algum tipo de vínculos com firmas privadas.
Mas não há muito o que fazer a respeito, conforme o presidente diria na entrevista:
"Daqui a pouco só vai poder servir ao país quem for ou professor (ainda bem, porque eu escapo) ou se for alguém que já é funcionário público ou tem bens de raiz (herança)".
Perguntou, em seguida: "O resto é tudo suspeito?".
O presidente aproveitou para provocar os jornalistas com outra pergunta: "Jornalistas que têm consultoria não poderão ir para o governo? Não que eu queira que vão, mas...".
FHC disse que vai conversar com o ministro da Justiça, Nélson Jobim, para que "haja logo uma definição clara de regras".
"Se eu tivesse uma consultoria, preferiria que houvesse regras que dissessem o que devo fazer para servir decentemente ao governo", afirmou.
Quanto ao caso específico de Hargreaves, o presidente recusou-se a tratar, fiel à decisão de deixar que problemas surgidos no segundo escalão sejam resolvidos pelo ministro de cada área.
A única informação que deu foi confirmar recebimento de um fax de Hargreaves.
"É coisa de dois dias atrás e não é carta de demissão", afirmou.
Hargreaves ganhava R$ 23,6 mil por mês para assessorar o Sebrae, entidade de fomento a micro e pequenas empresas. Nos Correios, seu salário era de R$ 5.000.
Antes de Henrique Hargreaves, saíram do governo por motivos semelhantes José Milton Dallari (secretário de Acompanhamento Econômico) e Paulo Motoki (chefe do Departamento Nacional de Combustíveis).

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