São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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Peça mostra Cyrano de Bergerac a crianças

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Especialmente as crianças a partir dos 7 anos que odeiam a disciplina rígida das salas de aula vão gostar de assistir a "Pedro Paulo Pedregulho".
O espetáculo enfoca a sala de castigo de uma escola. O cenário se resume a essa sala. Na lousa, está escrita várias vezes, como em antigos cadernos infantis, uma frase, mais ou menos assim: "Prometo nunca mais fazer bagunça".
O menino Mexirica (Eduardo Estrela) está na sala. Entra Carol (Adriana Lira). O relacionamento é de hostilidade e vergonha mútua. As crianças entendem o vexame de ser expulso da aula.
Mexirica e Carol resolvem dividir o espaço da sala e passam a conversar e a brincar. A atuação dos dois é um tanto afetada. Não é preciso, ao representar crianças, falar parecido com elas, fazer gestos característicos, que resultam em cenas estereotipadas.
Até que entra Pedro Paulo, um garoto de nariz enorme. Pedro Paulo amedronta os dois.
A disputa pelo espaço da sala de castigo começa outra vez. Pedro Paulo (Caco Ciocler) é o pior dos alunos da escola e o melhor ator do espetáculo.
Todo mundo tem medo dele. Sua fama de mau gera lendas -conta Mexirica. Dizem que ele mata, corta o corpo dos colegas e enfia na sua grande mala.
Alguns diálogos da peça são interessantes, repetem achados do pensamento infantil. Mas são longos para a faixa etária a que se dirige o espetáculo.
Por ter um único cenário e uma única situação dramática -estar de castigo e procurar o que fazer na sala-, "Pedro Paulo Pedregulho" estabelece certa monotonia.
Exige atenção do espectador. Se a intenção for dirigir a peça a crianças com problemas de comportamento na escola, é justamente essa monotonia que os alunos irrequietos não suportam.
Pedro Paulo abre a mala misteriosa e tira um livro. Já amigos, os três resolvem representar a peça "Cyrano de Bergerac", sobre um soldado poeta que existiu (1619-1655) e -dizem- era muito feio. Por temer o desamor de Roxane, escreveu cartas para um amigo enviar à amada.
Edmond Rostand (1868-1918) escreveu a comédia "Cyrano de Bergerac", em forma de ficção, mas em versos, representada na França 14.639 vezes, segundo o livro de mesmo nome, adaptado para a literatura infanto-juvenil por Rubem Braga (ed. Scipione).
É uma boa idéia da autora da dramaturgia, Cintia Alves, fazer as crianças se ocuparem com uma atividade nobre e importante.
Mas falta fidelidade ao original. A peça ocupa o tempo em diálogos desnecessários. Também, não faz referência ao estilo poético do livro, e a comédia, enquanto gênero, mal aparece.

Peça: Pedro Paulo Pedregulho
Direção: Cintia Alves
Elenco: Adriana Lira, Caco Ciocler e Eduardo Estrela
Onde: Centro Cultural São Paulo, sala Paulo Emílio (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 5,00

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