São Paulo, sábado, 16 de setembro de 1995
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ONU retoma vôos para Sarajevo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS; DO "THE INDEPENDENT"

Primeiro avião pousou ontem na cidade, após quatro meses; comboios também são reativados
A ONU anunciou que os vôos com ajuda humanitária para Sarajevo serão retomados hoje.
Um vôo simbólico, carregando três toneladas de farinha aterrissou ontem no aeroporto da cidade. A bordo veio o ministro da Defesa da França, Charles Millon.
A ponte aérea foi interrompida durante cinco meses, por causa do cerco sérvio à capital Bósnia. Está prevista para hoje a chegada de outros oito aviões. Nas estradas de acesso à cidade sob controle sérvio também circularam comboios com ajuda humanitária.
Ontem, os sérvios concordaram em retirar suas armas pesadas de uma zona de exclusão de 20 km ao redor de Sarajevo, o que significaria o fim do cerco à cidade, que já dura três anos e meio.
O fim do cerco era a condição imposta pela Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) para o fim dos bombardeios contra posições sérvias na Bósnia.
Os ataques foram iniciados em 30 de agosto, depois que uma granada sérvia lançada contra Sarajevo matou 37 pessoas.
"Isso significa o fim do cerco", disse o morador Davor Nikolic. "Junto com os aviões, esperamos gasolina, energia e água."
Amela Silaric, 18, não reagiu com o mesmo entusiasmo. "Demorou demais. Tinha 14 anos quando a guerra começou. Não me lembro de como é ir à praia. A todo momento dizem que as coisas vão melhorar, mas pioram."
A ONU deu prazo até a noite de domingo para que os sérvios comprovem a retirada das armas de Sarajevo. "Se os sérvios da Bósnia não cumprirem com seu compromisso, os ataques serão retomados", disse o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.
Na tarde de ontem, os sérvios dispararam dois mísseis contra caças da Otan que sobrevoavam Gorazde. O alvo não foi atingido e os aviões não reagiram.
Os sérvios levaram jornalistas para presenciar a retirada de tanques e peças de artilharia da região de Lukavica, mas não houve confirmação de outras retiradas.
O comando da Otan disse ter detectado indícios de que os sérvios estão agrupando suas armas para a retirada.
O governo bósnio e o comando das tropas da ONU na Bósnia protestaram contra concessões feitas aos sérvios pelo negociador norte-americano Richard Holbrooke no acordo de retirada das armas.
Os sérvios poderão manter na zona de exclusão alguns lançadores de morteiro, com calibre de até 82 milímetros, e canhões antiaéreos, de até 100 mm.
A exigência anterior da Otan era a remoção de todas as armas com calibre maior que 12,7 mm.
As tropas do Exército bósnio continuaram seu avanço na região noroeste do país.
Soldados sérvios e civis estão recuando em direção à cidade de Banja Luka. Estima-se que até 90 mil refugiados já tenham fugido para a cidade.
A Rádio Sarajevo informou que os bósnios capturaram na manhã de ontem a cidade de Bosanski Petrovac e continuavam avançando.
O Conselho de Segurança da ONU prorrogou por 180 dias a suspensão do embargo a que a atual Iugoslávia (Sérvia e Montenegro) são submetidos pelas Nações Unidas.
Anteriormente, o embargo era revisado a cada 75 dias. A decisão é considerada um prêmio pela colaboração da Sérvia nas negociações de paz para a Bósnia.

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