São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Bancada evangélica começou com um boato

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pastores da Assembléia de Deus, que consideravam a política uma "coisa do diabo", passaram a lançar candidatos nas eleições de 1986 induzidos por um boato: o de que a Igreja Católica tentaria, durante a Constituinte (1987-1988), tornar o catolicismo a religião oficial e única do país.
O mal-entendido foi desfeito, mas os evangélicos permaneceram no Parlamento. Hoje, quase dez anos depois, além dos deputados ligados à Assembléia de Deus, a bancada evangélica reúne oito diferentes igrejas. Ela tem 27 deputados (do total de 513), 4 senadores (dos 81) e ideologias distintas.
Para a Igreja Católica e alguns parlamentares, essa história foi um mero argumento da Assembléia de Deus para conseguir eleger deputados e assim defender os seus interesses no Congresso Nacional.
"É uma grande besteira, absoluta e total mentira. Desde 1965 a Igreja Católica defende a liberdade religiosa", afirmou o subsecretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), padre Antônio Valentino.
O boato inicial foi responsável pelos 40 mil votos do deputado federal Salatiel Carvalho (PPB-PE), em 1986. "Nunca tinha sido nem vereador. Entrei na política dessa forma. Hoje sabemos que a notícia era uma mentira", declarou Carvalho, hoje no terceiro mandato.
Deputados das igrejas consideradas "históricas" (presbiteriana, batista, metodista e luterana), porém, afirmam que se elegeram independentemente de suas igrejas.
Já a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, procura se articular melhor politicamente. Os bispos já estão escolhendo fiéis para serem candidatos nas próximas eleições.
A Igreja Universal não dá números, mas confirma que os evangélicos querem eleger vereadores em diversos municípios para fazer "um bom trabalho para o senhor Jesus".
União anti-imposto
Os evangélicos estão juntos quando o tema é ligado à família, como o aborto, o homossexualismo e prostituição, ou quando existe uma ameaça às suas igrejas.
Em junho passado, os evangélicos se mobilizaram para impedir a aprovação de um projeto que acabava com a isenção do pagamento de alguns impostos pelos templos e igrejas.
O projeto, de autoria do deputado Eduardo Jorge (PT-SP), levou uma comissão de 12 pastores e seis deputados ligados à Assembléia de Deus ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na ocasião, o deputado Valdenor Guedes (PPB-AP) declarou que seria uma "política de má vizinhança" se FHC não apoiasse a derrubada do projeto. Na mesma época, o governo tentava aprovar suas propostas de reforma constitucional na Câmara.
O projeto de Jorge acabou aprovado parcialmente na primeira comissão e ainda está tramitando na Câmara. Passou apenas a parte do projeto que acaba com a isenção fiscal para publicações, como jornais e revistas. Igrejas e partidos continuam com o benefício.
No Congresso constituinte, os evangélicos arriscaram a formação de um partido, mas esbarraram na ideologia e nos interesses partidários. Os parlamentares das oito diferentes igrejas dizem que não há uma bancada evangélica formal.
"Muitos evangélicos são de direita. Eu sempre estive mais ligado aos grupos de esquerda", afirmou o pastor presbiteriano e deputado Elias Abrahão (PMDB-PR).
A única reunião formal da bancada é um almoço às quintas-feiras, na Câmara. Mesmo assim, nem todos participam: normalmente aparecem dez deputados.

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