São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Filmes celebram Welles e Eisenstein

Documentários articulam vida e obra

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A melhor celebração dos cem anos do cinema em Veneza-95 esteve em três documentários sobre cineastas: "Orson Welles - The One-Man Band, de Oja Kodar e Vassili Silovic, "Carl T. Dreyer - Meu Metier, de Torben Skjodt Jersen, e "Sergei Eisenstein: Autobiografia, de Oleg Kovalov, todos da seleção "Uma Janela para o Cinema.
Kovalov comemora dois centenários: o do cinema, neste ano, e o de Eisenstein, em 1998. O ponto de partida são as inacabadas e fragmentárias "Memórias Imorais do diretor de "O Encouraçado Potemkin. As raras palavras do documentário saem de trechos sobre a história familiar de Eisenstein. Kovalov reconstrói a trajetória do cineasta principalmente a partir de clipes de filmes de Eisenstein e contemporâneos e de raras presenças dele em cinejornais.
"The One-Man Band é também um filme de arquivo, mas esbanja novidades com o material inédito rodado por Welles (1915-1985) nos últimos 20 anos de vida. É a viúva, a atriz e co-diretora Oja Kodar, que nos guia na abertura de seu "arquivo Welles, onde se acumulam roteiros, cartas, desenhos, pinturas e sobretudo muitas cenas filmadas jamais vistas.
Os raros fragmentos efetivamente filmados de "The Dreamers (1980), adaptando dois contos de Isak Dinensen, trazem Oja Kodar contracenando com Welles, no papel de uma diva esquizofrênica que desafia seu protetor. O fascínio de Welles por magia se evidencia nos esquetes de seu último projeto, "The Magic Show (1976-1985).
São deliciosos seus brevíssimos curtas. "Churchill (1967) o traz em silhueta interpretando algumas das melhores piadas sobre o líder britânico. "Stately Homes (1969) e "Tailors (1970) fazem rir do mitológico "senso de humor inglês.
Na mesma linha, "Swinging London (1967) satiriza personagens típicos do cotidiano londrino, com a particularidade de todos -da florista ao marinheiro- serem vividos pelo próprio Welles. Já "Vienna (1967) exibe a capital austríaca como o doce inferno dos glutões.
A grande surpresa é um fragmento de sua última adaptação de Shakespeare para cinema: "O Mercador de Veneza (1970), com uma original revisão positiva do Shylock. O roubo dos negativos de um laboratório em Roma vitimou o projeto quase pronto de um especial de 40 minutos para TV.
Tampouco o dinamarquês Carl T. Dreyer (1889-1968) teve carreira das mais facéis. Trocou o cinema pelo jornalismo, rodou curtas de encomenda, foi esnobado pelos cineburocratas de seu próprio país. Apesar de tudo, Dreyer estabeleceu um padrão de qualidade, um asceticismo de método e de estilo raríssimas vezes repetido.
O filme de Jensen articula com rara sensibilidade a vida e a obra do cineasta, misturando trechos de seus filmes e entrevistas, iluminados por depoimentos atuais de vários colaboradores. "Meu Metier prova: Carl Dreyer é o melhor antídoto ao câncer audiovisual contemporâneo.

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