São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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ONU confirma retirada sérvia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os sérvios da Bósnia já retiraram 150 armas pesadas (entre 45% e 75% do arsenal) da região de Sarajevo, informaram ontem as Nações Unidas. A retirada era a condição imposta pela Otan, a aliança militar ocidental, para encerrar os ataques aéreos contra os sérvios.
Os ataques têm acontecido, com algumas interrupções, desde o dia 30 de agosto, quando a ONU acusou os sérvios de bombardearem o mercado de Sarajevo e matarem 37 pessoas.
Com a retirada das armas, fica muito próximo o fim do cerco à capital Bósnia, que já dura 41 meses. Os sérvios da Bósnia estão em guerra contra os croatas e muçulmanos do país, majoritários, desde a separação da Bósnia da Iugoslávia, em 1992. Os sérvios da Bósnia buscam o reconhecimento da autoproclamada República Sérvia da Bósnia e sua união à Sérvia.
A informação da retirada das armas foi passada pelo comando da ONU na ex-Iugoslávia ao governo muçulmano da Bósnia, ontem, e divulgada pela rádio estatal. Nenhum oficial da ONU confirmou-a diretamente.
A Otan havia determinado o horário de 22h (17h em Brasília) para que os sérvios retirassem as armas. Após esse horário, os bombardeios recomeçariam. A trégua havia começado há três dias, justamente para que os sérvios pudessem retirar as armas.
Segundo a ONU, os sérvios mantêm entre 200 e 329 armas pesadas em um raio de 20 km ao redor da capital bósnia. A Otan admitiu, na tarde de ontem, que é "remota a possibilidade de os ataques serem retomados.
O governo bósnio, por sua vez, anunciou que continuará sua ofensiva contra os sérvios. Os ataques têm se aproveitado da proteção oferecida pelos ataques da Otan.
O primeiro-ministro Haris Silajdzic disse que pretende ocupar mais de 51% do território sérvios. Isso significa que os bósnios têm intenção de expandir-se além do proposto pelo plano de paz dos EUA (51% para uma federação muçulmano-croata e 49% para os sérvios).
Antes da ofensiva da Otan, os sérvios ocupavam 70% do território e resistam em aceitar os termos do plano americano. Hoje, eles detêm apenas 55%.
"Os sérvios nunca assinaram nenhum plano que lhes garanta os 49%", disse Silajdzic. Para o primeiro-ministro, "a ofensiva pode levar à paz".
O comandante dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, foi internado em Belgrado, onde deve ficar por seis dias negociando com o governo da Sérvia e Montenegro, seus aliados. Segundo a agência de notícias russa "Itar-Tass", ele sofreu uma cólica renal e foi levado ao hospital militar.
"Eu gostaria de enfatizar que a nossa parte já está cumprida", disse o comandante dos sérvios na região de Sarajevo, Dragomir Milosevic, por volta de 19h (16h em Brasília). Ele disse que 50% das armas já haviam sido retiradas naquele horário.
Em outra frente, entretanto, os sérvios continuam resistindo. Eles conseguiram reforças a segurança em torno de Banja Luka, a maior cidade sob seu poder, que está sob pressão dos muçulmanos e dos croatas da Bósnia.
A população local está sob toque de recolher, com ordens de não deixar suas casas exceto com "expressa ordem das autoridades". Os homens em idade militar foram convocados.
Refugiados sérvios que deixaram as cidades ocupadas por croatas e muçulmanos nos últimos dias estão sendo levados para cidades ao norte de Banja Luka. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, a situação é "catastrófica". A entidade disse que existem entre 60 mil e 70 mil refugiados na região. Há dois dias, o número era de 50 mil.

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