São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Desafio mundial

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - A luz vermelha do desemprego acendeu no Palácio do Planalto. Quem acionou o botão foi a indústria paulista, ao anunciar na semana passada que fechou em agosto mais de 57 mil vagas, o pior resultado do Real.
Ganham força nos bastidores do governo aqueles que defendem o fim do arrocho ao crédito, na busca de reaquecer a economia e conter as demissões. Têm sua posição ameaçada os que ainda acham cedo dizer que a inflação está totalmente dominada.
O tema desemprego não é novo no Palácio do Planalto. Desde que assumiu, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebe regularmente uma pesquisa sobre o que a população deseja de seu governo. Emprego sempre aparece no topo da lista.
Mas como manter a inflação baixa também surgia entre os principais anseios da população, FHC ficou do lado dos argumentos do ministro Pedro Malan (Fazenda). Afinal, inflação alta é o maior inimigo do trabalhador.
Justiça seja feita. Caso Malan não tivesse se mantido firme em sua posição, a inflação não estaria apontando hoje para menos de 1%. Ela ameaçava, no primeiro semestre, sair novamente de controle.
Só que agora, com apostas até em deflação e as demissões aumentando, discute-se no governo se não é o momento de acabar com a política de desaquecimento da economia. O ministro José Serra (Planejamento) é um dos fomentadores desse debate.
O assunto promete dominar as reuniões da equipe de FHC nas próximas semanas. Na Fazenda, a aposta é que o desemprego já chegou ao fundo do poço. A partir de outubro, a tendência seria revertida por causa da pequena redução nos juros e das vendas de final de ano.
Caso as previsões de Malan e equipe não se confirmem, manter a atual política será insustentável. Independente disso, o governo FHC poderia desde já mostrar-se preocupado com o avanço das demissões e formular uma política oficial para combatê-las.
Afinal, longe de ser um problema brasileiro, o desemprego é um desafio mundial. Como bem lembra o deputado Antonio Kandir, não está ligado somente a planos de estabilização, mas também a fenômenos do final deste século, como automação e fusões de empresas.

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